Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 16/03/2022
O que exatamente devemos comemorar neste dia?
Vivemos na chamada “Era da Informação”: nunca a humanidade teve ao seu dispor tanta informação acumulada. Hoje, uma criança de 5 anos tem mais conhecimento do que Cabral, o “descobridor do Brasil”, teve em toda a sua vida.
Assuntos existem em abundância. Para muitas pessoas, entretanto, o problema está na dificuldade em filtrar o que interessa nessa enxurrada de comunicações disponíveis. Outro dilema é a confiabilidade da informação disponível, o que realmente tem de embasamento sério e correto, o que é verdadeiro ou o que é “fake”.
Nada disso, entretanto, é o foco da comemoração desta data. Não se festeja a abundância da informação, nem as multivariadas vias de transmissão. A comemoração desta data é sobre a liberdade para obter a informação.
Então, pressupõe-se que nem todas as pessoas conseguem obter essas informações: não dispõem dos meios de acesso ou a veiculação da mesma está bloqueada por poder acima do indivíduo. Se este é o motivo para tal data comemorativa, em verdade, nada se festeja, ao contrário, algo se lamenta. É dia, então, de “marcar uma posição política”, ou, simplesmente, de confirmar o combate contra algo indesejado e inaceitável.
É mais comum que, neste espaço do blog, alertemos os pais quanto a necessidade de vigilância quanto ao acesso sem restrições dos filhos às diversas mídias. Hoje, entretanto, queremos alertar a sociedade e o poder público, em particular crianças e adolescentes: todos nós merecemos uma sociedade inclusiva que não tema o diálogo, a discussão honesta e clara, transparente, civilizada, respeitosa, sobre qualquer tema. Há limites para essa liberdade? Sim, há: quando a dignidade humana é subjugada, quando o outro é desrespeitado. Como diz o filósofo inglês Herbert Spencer: “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”.
Liberdade de informação não é o mesmo que liberdade de expressão, embora, sem ouvir a expressão do outro não há plena liberdade de informação. Quem, então, determina o que deve ser informado e o que deve ser censurado? Aí reside o problema. Se optarmos pelo liberalismo geral e irrestrito corremos o sério risco de construirmos uma sociedade anárquica. Se optarmos pela censura prévia como um princípio, corremos o risco de construirmos uma sociedade elitista, exclusivista e maniqueísta.
Talvez, seja uma grande utopia humana buscar o bom-senso, o caminho do meio. Ora, se esta data não for para marcar o desejo do coração humano pela grandeza, pela expressão do que há de melhor no homem, é melhor então que não a comemoremos. Façamos desta data um momento de reflexão para que pensemos sobre que tipo de mundo queremos deixar de legado para nossos filhos.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Foto: rozaivn | depositphotos.com