Lanche escolar: atenção para a saúde geral e bucal

Lanche escolar: atenção para a saúde geral e bucal

Atualmente, a alimentação infantil é motivo de grande preocupação dos pais e profissionais de saúde, devido a um aumento alarmante no consumo de alimentos altamente calóricos e de baixa qualidade nutricional.

É fundamental estimular a formação de hábitos alimentares saudáveis desde os primeiros anos de vida, para garantir o crescimento e desenvolvimento adequados, a manutenção da saúde e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade e cárie dentária.

Vale lembrar que as crianças não apresentam maturidade e conhecimento suficiente para fazerem suas escolhas alimentares, sendo os pais e cuidadores os principais responsáveis pela escolha, aquisição, preparo e oferta alimentar.

Hábitos alimentares se desenvolvem em casa e são moldados constantemente nos ambientes onde a criança está inserida: escola, casa de amigos e familiares, locais de esporte, praças de alimentação, etc. As preferências alimentares presentes na infância podem se perpetuar na vida adulta. O consumo de carboidratos fermentáveis, em especial a sacarose (açúcar), é um dos fatores que interferem no desenvolvimento de lesões de cáries. O consumo de bebidas e alimentos ácidos em alta frequência pode favorecer a erosão do esmalte dentário, levando à sensibilidade e perda de parte de sua estrutura.

Além das refeições feitas em casa, o lanche escolar, levado de casa ou comprado na escola, também tem um papel muito importante na rotina alimentar. Ele oferece nutrientes e energia para garantir o aproveitamento escolar e permite que a criança chegue com maior controle do apetite na refeição seguinte.

A rotina atarefada das famílias e a crescente seletividade alimentar das crianças têm resultado na confecção de lanches altamente calóricos, compostos na maioria das vezes por alimentos processados e ultraprocessados. A praticidade, durabilidade, alta palatabilidade e embalagens chamativas exercem grande influência no consumo.

É importante destacar que o lanche escolar não precisa ser uma refeição completa, com alimentos de todos os grupos, visto que do ponto de vista energético ele deve representar apenas 10% a 15% do consumo energético diário.

Normalmente o valor energético exibido no pacote de um alimento ultraprocessado refere-se a uma porção muito pequena, que não expressa o tamanho das porções consumidas e confunde o consumidor com frases enganosas, como “Enriquecidos com…”, “Livre de gorduras”, “Zero gorduras trans”, etc.; iludindo os pais em relação à verdadeira composição dos produtos.

Sendo assim, propomos dicas básicas para o seu planejamento:

  • O lanche escolar deve suprir as necessidades nutricionais de cada faixa etária e ser constituído por 2 ou 3 alimentos ou preparações;
  • Alimentos ultraprocessados devem ser evitados;
  • A criança deve ser estimulada a hidratar-se com água. A garrafa de água é item obrigatório e deve ser consumida! Ela pode ser levada cheia e a família deve estimular a criança a tomar com frequência e completar quando acabar;
  • Oferecer frutas em vez de sucos. Elas são importantes fontes de energia, vitaminas, minerais e fibras. As fibras estimulam a mastigação e favorecem o crescimento e desenvolvimento adequado das arcadas dentárias; sendo assim, incluir sempre uma porção de fruta ou hortaliça (tomate, palitos de cenoura e pepino, etc.);
  • Escolher uma fruta prática para ser consumida com casca ou cuja casca possa ser retirada com facilidade (maçã, banana, pera, pêssego, ameixa, morango, mexerica, uva, etc.). Algumas frutas podem ser levadas inteiras, enquanto outras devem ser descascadas e levadas picadas em recipientes com tampa: abacaxi, melão, melancia, manga, etc. Em caso de necessidade de corte, fazê-lo o mais perto possível do consumo. Lembrar que, conforme a idade, frutas como a uva devem ser cortadas, para evitar engasgos, e todos os itens devem ser pré-lavados, secos e bem embalados;
  • Caso a escolha seja suco, sempre eleger o natural ou integral ou 100% da fruta. Vale lembrar que esses sucos não contêm açúcar, mas na maioria dos casos podem ser diluídos na proporção de 2 partes de suco para 1 de água, já que são altamente concentrados. No caso de sucos naturais, preparar bem perto do consumo e lembrar-se que esse tipo de alimento tem quantidade máxima a ser consumida por dia consumo máximo ao dia;
  • Enviar um alimento fonte de proteína: leite, iogurte, queijo, ovo cozido, ovo de codorna (5 unidades = 1 ovo de galinha), crepioca, sanduíche de atum, frango, etc.;
  • Compor com uma fonte de carboidrato: pão francês, pães integrais (aveia, grãos, centeio, integral, preto), pão sírio, torrada integral, torrada, bolo caseiro, tapioca, cereal matinal sem adição de açúcar, pipoca de panela, wrap, cookie integral, panqueca caseira, snack de batata, batata-doce, mandioca, mandioquinha, etc.; restringindo o consumo das versões ultraprocessadas, como bisnaguinha, pão egg sponge, bolinhos prontos, ;
  • Sugestões de recheio: queijo minas, queijo meia-cura, mussarela de búfala, manteiga, requeijão, fritada (ex.: ovo mexido com tomate), patês de ricota temperada, frango, geleia de frutas sem adição de açúcar, pasta de amendoim, etc.;
  • É importante utilizar lancheiras de material térmico ou gelo em placas para manter a qualidade dos alimentos e evitar que gêneros perecíveis fiquem sem refrigeração por mais de três horas.

Alimentos e preparações que não devem entrar na rotina alimentar da criança. Caso algum item seja eleito para o lanche escolar, restringir a oferta para 1 vez por semana:

  • Sucos e refrescos de caixinha;
  • Snacks e salgadinhos de pacote;
  • Leite fermentado, tipo Yakult (EVITAR);
  • Achocolatados prontos (Toddynho e similares);
  • Doces em geral (chocolate, sorvete cremoso, pirulito, balas, etc.);
  • Pães e bolos com recheios e cremes;
  • Pães doces;
  • Salgados fritos (coxinha, risole, bolinha de queijo, etc.) e assados (pão de queijo, enrolado de salsicha, enrolado de frios, empada, croissant, etc.);
  • Bolachas em geral, especialmente as recheadas;
  • Waffle;

Bebidas isotônicas, como Gatorade e similares, são contraindicadas, devido aos altos teores de sódio.

Lembrar que os lanches não consistem em refeições inteiras. Cada item é apenas uma parte do conjunto; então não se deve exagerar nas quantidades.

 

Relatora:
Vera Regina M. Dishchekenian
Especialista em Nutrição Materno-Infantil
Membro do Núcleo de Estudos de Saúde Oral da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Colaboradoras:
Ana Flavia Calvo
Cristina Giovannetti Del Conte
Patricia Roulet
Núcleo de Estudos de Saúde Oral da Sociedade de Pediatria de São Paulo