Diz a história que, num reino distante, caçadores começaram a desaparecer misteriosamente em uma floresta sombria. Um dia, descobrem a causa: um ser peludo, com corpo de ferro – ou coberto de pelos espessos – que vive no fundo de um lago. É capturado e trancado em uma jaula no castelo.
Anos depois, o jovem príncipe, ainda menino, deixa cair sua bola dourada dentro da jaula. Para recuperá-la, precisa libertar João de Ferro, usando uma chave escondida debaixo do travesseiro do rei. Para fazer isso, precisa desobedecer a autoridade real e cruzar um limite – este é o começo simbólico de toda iniciação.
O menino liberta João e parte com ele para a floresta. É lá, longe do conforto do castelo, que sua jornada de crescimento começa. João de Ferro o coloca à prova com tarefas desafiadoras. Quando o menino falha, é enviado ao mundo, com a recomendação de aprender com a vida, trabalhar e amadurecer.
Ele vive então uma trajetória de humildade: trabalha como jardineiro, ocultando sua origem real e enfrenta as lutas silenciosas do cotidiano. Com o tempo, revela coragem, sabedoria e virtude. Seu valor é reconhecido, ele se casa com a princesa e assume um novo lugar no mundo.
Ao fim, João de Ferro reaparece: não mais um selvagem, mas um ser livre. Revela-se, enfim, como um rei encantado, que só poderia ser libertado por alguém de coração puro.
Esse conto é uma poderosa metáfora do amadurecimento. Cada um de nós carrega uma floresta interior a ser atravessada. Todos temos um lago escuro onde moram o medo e a coragem. Uma bola dourada que, às vezes se perde. E um João de Ferro que espera ser libertado – não pela força bruta, mas pela escuta amorosa.
Ser pai, ser filho, ser humano… é isso: é crescer por dentro. É errar de verdade. Amar com presença. É voltar do poço, não com ouro nas mãos, mas com sabedoria nos olhos. É aceitar o chamado para entrar em si mesmo, visitar feridas, escutar emoções esquecidas, reconhecer a própria vulnerabilidade – e, ao fazer isso, abrir espaço para o outro também crescer.
Pai não é só quem provê. É quem inicia. Quem compartilha a alma, ensina a amar sem medo e caminha ao lado, sem apagar o passo do filho.
Neste Dia dos Pais, não precisamos celebrar um modelo perfeito ou heroico. Celebremos o pai possível: aquele que se arrisca a estar inteiro, com mãos ainda aprendendo, coração disponível e olhos atentos e cheios.
Porque é nesse gesto – imperfeito, mas real – que a vida se transmite e o amor se faz caminho.
Feliz Dia dos Pais.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP


