Texto divulgado em 03/09/2025
Os Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF) englobam um grupo de alterações resultantes da exposição intrauterina ao álcool. Essas manifestações são heterogêneas e incluem anomalias físicas congênitas, atraso no crescimento e déficits neurocognitivos, de aprendizagem, de atenção e de habilidades sociais. O TEAF constitui um espectro que abrange várias condições, com fenótipos que vão de leves a graves. Atualmente são reconhecidos cinco transtornos, com efeitos físicos e neurológicos distintos, decorrentes da ação teratogênica do álcool no embrião/feto:
- Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)
- Síndrome Alcoólica Fetal Parcial (SAFp)
- Transtorno Neurodesenvolvimental Relacionado ao Álcool (ARND)
- Defeitos Congênitos Relacionados ao Álcool (ARBD)
- Transtorno Neurocomportamental Associado à Exposição Pré-natal ao Álcool (ND-PAE)
Destas, a SAF representa o quadro mais grave e completo dentro do TEAF.
As manifestações podem ocorrer de forma diversa, incluindo dismorfismos faciais típicos da SAF e da SAFp, malformações congênitas (principalmente cardíacas e renais), atraso de crescimento intrauterino com persistência pós-natal, déficits cognitivos, dificuldades de aprendizagem, transtornos de atenção e hiperatividade, além de prejuízos no comportamento adaptativo e nas habilidades sociais. Predomina a expressão de alterações neurocomportamentais, que costumam ser crônicas e complexas, impactando a saúde do indivíduo, a dinâmica familiar e a sociedade. Tais dificuldades podem levar a incapacidades e dependência, refletindo-se no âmbito familiar e social.
Diagnóstico e manejo
Não existe biomarcador específico para TEAF. O diagnóstico é clínico, baseado na história materna de consumo de álcool durante a gestação (em qualquer momento) e na avaliação multidisciplinar minuciosa. Não há uma dose segura conhecida de álcool durante a gravidez; mesmo exposições mínimas podem ser prejudiciais ao desenvolvimento fetal.
Não há intervenção terapêutica específica para corrigir as alterações do sistema nervoso central. No entanto, o diagnóstico precoce permite o início de intervenções terapêuticas e de suporte para reduzir o impacto funcional das dificuldades cognitivas e comportamentais.
Prevenção e importância da saúde pública
Apesar de totalmente preveníveis, os TEAF continuam sendo uma importante causa de morbidade crônica e subdiagnosticados com frequência. O álcool é considerado o principal agente evitável de malformações congênitas, distúrbios do desenvolvimento e deficiência intelectual não hereditária, configurando um grave problema de saúde pública, com impactos clínicos, sociais e econômicos significativos.
A abstinência total do consumo de álcool durante a gestação é a medida mais eficaz de prevenção. Para isso, a atuação do médico e de toda a equipe de saúde é essencial na orientação pré-concepcional, no acompanhamento pré-natal, na educação em saúde materno-infantil e na comunicação pública sobre os danos do consumo de álcool na gravidez.
Maria dos Anjos Mesquita
Membro do Núcleo de Estudos sobre Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF) da Sociedade de Pediatria de São Paulo


