Impactos no feto do consumo de álcool pela mulher grávida

Impactos no feto do consumo de álcool pela mulher grávida

Desde 1999, no nono dia do nono mês de cada ano celebra-se o Dia Mundial de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). Esse dia tem o grande objetivo de conscientizar toda a sociedade sobre a gravidade dos impactos no embrião e no feto do consumo de álcool pela mulher grávida.

O nono dia do nono mês lembra-nos os nove meses de gestação. Durante esse período, a abstinência total do álcool pelas gestantes é fundamental para impedir o desenvolvimento dos chamados Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF), dos quais a Síndrome Alcoólica Fetal representa o quadro mais grave e completo.

Um estudo francês, publicado em 1968, foi o primeiro a descrever um conjunto de malformações físicas, déficits cognitivos, alterações de crescimento e comportamentais em crianças expostas ao álcool na vida intrauterina. Desde então, inúmeras pesquisas cientificas têm alertado sobre as várias consequências deletérias que essa droga lícita pode levar ao embrião/feto. Essas pesquisas também têm afirmado o desconhecimento da existência de algum nível seguro de ingestão de álcool durante a gravidez.

As implicações da SAF/TEAF são amplas e, muitas, irreversíveis, com consequências para o indivíduo afetado, para a sua família e para toda a sociedade.

O indivíduo acometido apresenta manifestações variáveis de acordo com a sua faixa etária. Pode ter malformações craniofaciais, atraso de crescimento e desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e de memória, déficit de atenção, distúrbios de comportamento e maior vulnerabilidade a problemas psiquiátricos. Graves problemas de convívio social, baixo limiar de frustração, agitação, hiperativação, irritação fácil são comuns. Com frequência apresentam  dificuldade em trabalhar, voltam-se para a criminalidade, têm grande propensão ao uso de álcool e de outras drogas e tornam-se totalmente dependentes de terceiros.

Em nível coletivo, a SAF/TEAF leva a impacto na qualidade de vida das famílias, pela sobrecarga no cuidado e sofrimento psíquico. Traz sobrecarga dos sistemas de saúde e de educação, com a necessidade de suporte pedagógico especial e pelo risco de estigmatização social.

Na saúde pública, a SAF/TEAF é muito subdiagnosticada e negligenciada, causando, a longo prazo, custos expressivos para a assistência médica e para as políticas de inclusão social e escolar.

Muitas das manifestações da SAF/TEAF não têm cura, principalmente as relacionadas ao sistema nervoso central. Assim, os indivíduos afetados e a sua família são obrigados a conviver com elas durante toda a vida.

Apesar da gravidade, a SAF/TEAF é 100% evitável. Para isso, basta que a gestante não consuma álcool em nenhum período gestacional. Assim, a prevenção é a única estratégia e é totalmente eficaz.

A capacitação de profissionais de saúde, no aconselhamento pré-natal e identificação da SAF/TEAF, a elaboração de políticas públicas e a realização de campanhas informativas e educacionais de toda a população são essenciais na promoção da conscientização sobre os riscos do álcool para o embrião e para o feto. Por meio delas, a incidência dessa condição, completamente prevenível, poderá ser diminuída.

A gestação e a infância devem ser protegidas. Temos a responsabilidade de o fazer por meio de informação, suporte e compromisso social com a saúde das gestantes e das futuras gerações. O Dia Mundial de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal faz-nos esse convite.

 

Relatora:

Maria dos Anjos Mesquita
Membro de Núcleo de Estudos sobre os Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF) da SPSP