A amamentação é uma jornada única e desafiadora, cheia de aprendizados para a mãe e para o bebê. O recém-nascido, mesmo que tenha nascido a termo, ainda está desenvolvendo a coordenação complexa de sugar, deglutir e respirar. Essa habilidade, que é essencial para extrair o leite, é aprendida e aprimorada a cada mamada.
Nos primeiros três meses, o aprendizado da amamentação passa por uma autorregulação. O bebê se adapta para coordenar a sucção e a deglutição, enquanto o corpo da mãe se ajusta para produzir leite de forma constante. Esse período nem sempre é simples, mas um manejo adequado da amamentação pode fazer toda a diferença. Dificuldades como a pega incorreta podem causar dor e ferimentos na mãe, podendo levar a um desmame precoce.
Em alguns casos, as dificuldades na amamentação podem estar relacionadas a problemas na cavidade oral do bebê. É aí que o odontopediatra se torna um aliado na equipe que atende a família, diagnosticando e tratando condições como:
- Lesões na cavidade oral
- Pouca abertura de boca, retrognatia mandibular (situação quando a mandíbula está posicionada mais para trás do que o normal, podendo resultar em recuo do queixo)
- Dentes natais (presentes ao nascer) ou neonatais (que aparecem no primeiro mês de vida)
- Anquiloglossia (a famosa “língua presa”), que limita os movimentos da língua, e outros freios orais que podem estar alterados e impactando na movimentação local.
Anquiloglossia: a “língua presa”
A anquiloglossia é um dos desafios de amamentação mais discutidos. O diagnóstico é complexo e deve ser feito por uma equipe transdisciplinar.
É crucial que o pediatra avalie o bebê, para que possa ser realizada qualquer intervenção, até mesmo uma simples manipulação.
O bebê é um paciente que deve ser considerado especial e, portanto, cuidados específicos devem ser tomados, como evitar excesso de manipulação, dor, etc., que possam causar estresse ao bebê e desorganizar o aprendizado de funções básicas!
Embora não exista consenso na literatura, muitos estudos e a prática clínica têm demonstrado que a liberação do freio lingual pode melhorar a pega do seio materno pelo bebê e a dor da mãe durante as mamadas. Em casos de dúvida, uma abordagem conservadora, com acompanhamento e suporte contínuos, é a mais indicada, conforme a Nota Técnica 52/2023 do Ministério da Saúde.
A importância do acompanhamento multidisciplinar
A língua é um órgão composto por vários músculos, que precisam trabalhar em equilíbrio e harmonia. A anquiloglossia pode afetar o desenvolvimento da língua na forma e função e, por isso, mesmo após a cirurgia de liberação do freio, o acompanhamento com um fonoaudiólogo é essencial. Esse profissional auxilia na reabilitação muscular e da mamada, garantindo que a língua ganhe a forma e função necessárias e a dupla mãe-bebê alcance uma amamentação eficiente.
Cada família é singular e o diagnóstico e plano de tratamento devem ser personalizados. É fundamental evitar o sobretratamento (procedimentos cirúrgicos desnecessários), quanto o subdiagnóstico e o subtratamento (falha em identificar e tratar problemas reais), que podem prejudicar o crescimento e desenvolvimento do bebê!
Atender uma família nesse momento vulnerável exige conhecimento, empatia e, acima de tudo, uma abordagem cuidadosa, criteriosa e transdisciplinar.
Relatora:
Adriana Cátia Mazzoni
Membro do Núcleo de Estudos de Saúde Oral da SPSP
Colaboradoras:
Cristina Giovannetti Del Conte
Mary Odete da Silva
Sylvia Lavínia Ferreira
Núcleo de Estudos de Saúde Oral da SPSP


