Por que ter um dia para chamar a atenção sobre a saúde de adolescentes e jovens?

Por que ter um dia para chamar a atenção sobre a saúde de adolescentes e jovens?

O Dia Nacional da Saúde de Adolescentes e Jovens, comemorado em 22 de setembro, serve para reforçar a necessidade de atenção especial às pessoas desse grupo populacional, que engloba a adolescência (10 a 19 anos e 11 meses) e juventude (15 a 24 anos).

A adolescência é uma fase marcada por intensas transformações físicas, cognitivas, emocionais e sociais. É um período delicado da vida, em que mudanças hormonais, busca por identidade, influências de amigos e descobertas de novas responsabilidades podem gerar inseguranças, afetando a saúde mental e aumentando a exposição a situações de risco. Além disso, é uma oportunidade para orientar e corrigir hábitos adquiridos na infância, como padrões alimentares inadequados, sedentarismo, excesso de tempo diante de telas, dificuldades relacionadas ao sono e habilidades sociais. É na juventude que se inicia a prática de todo aprendizado dos anos anteriores, o exercício da autonomia e do autocuidado.

Como ensinar adolescentes e jovens a cuidarem de sua saúde?

Para formar adultos saudáveis e autônomos é preciso que exista uma rede de apoio, composta por famílias, escolas e profissionais de saúde. Quando essa rede atua de forma articulada, o adolescente encontra suporte para enfrentar dilemas, buscar ajuda diante de dificuldades e adotar hábitos que favoreçam um futuro mais saudável. Quando se sentem ouvidos e apoiados, os adolescentes tornam-se capazes de tomar boas decisões e construir projetos de vida.

Crescer em ambiente com diálogo aberto, escuta e ausência de julgamentos facilita ao adolescente tirar dúvidas e falar sobre medos e dificuldades. Conversas sobre autocuidado, respeito ao corpo, privacidade e sexualidade contribuem para escolhas mais seguras. O convívio familiar abre oportunidades de conversas, fortalece vínculos e exerce um fator protetor para o envolvimento em comportamentos de risco. Pais e responsáveis precisam ficar atentos a mudanças bruscas de condutas, como isolamento social, queda no rendimento escolar, alterações no sono ou alimentação, entre outras, pois são sinais que podem indicar sofrimento emocional e, quando percebidos, eles devem buscar ajuda profissional.

As escolas, além de serem locais para o aprendizado acadêmico, podem ser espaços de promoção de saúde e bem-estar. Incentivar rodas de conversa sobre saúde física e mental, sexualidade, prevenção de violência e projetos de vida permite aos alunos acesso à informação de qualidade e esclarece mitos. A instituição deve oferecer um ambiente acolhedor, onde estudantes sintam-se seguros para fazer perguntas, expressar sentimentos e procurar apoio sem medo de julgamento ou punição. É fundamental que exista um posicionamento antibullying, com políticas que incluam normas explícitas de convivência, com canais de escuta e denúncia, acompanhamento psicológico quando necessário e ações educativas contínuas. Quando a escola assume postura firme e transmite a mensagem de que violência e discriminação não são permitidas, fortalece vínculos e previne problemas de saúde emocional que poderiam causar impactos até a vida adulta.

Profissionais de saúde precisam adotar uma abordagem centrada no indivíduo, considerando suas necessidades, seus direitos e sua autonomia crescente. O atendimento deve ser feito com respeito, sigilo e empatia, favorecendo o vínculo de confiança. Adolescentes têm o direito de serem atendidos desacompanhados, desde que apresentem condições de compreender o que lhes é explicado e, mesmo quando acompanhados, é desejável que tenham um momento de privacidade, para que possam tirar dúvidas e receber orientações baseadas em suas vivências. O desenvolvimento da autonomia nos cuidados em saúde deve começar nessa fase da vida.

Fase de transição para a vida adulta

No fim da adolescência e início da juventude ocorre a finalização da escola, a entrada na faculdade, ingresso no mercado de trabalho e às vezes a saída de casa. É o início da vida adulta, com menos dependência da família. A liberdade adquirida nesse momento de vida é tentadora, sendo comum que se priorizem as festas, relacionamentos amorosos e saídas com amigos, em detrimento dos cuidados em saúde. O preparo para esse momento deve ser construído gradativamente no decorrer da adolescência, focando no desenvolvimento de autonomia com responsabilidade. Aprender a marcar consultas, compreender receitas, gerenciar as medicações, reconhecer sinais de alerta e saber onde buscar ajuda são competências tão importantes quanto aprender a administrar finanças e um lar. Quando esse treinamento não é feito, pode resultar em abandono das visitas médicas e de tratamentos, com grande impacto na saúde, principalmente naqueles com doenças crônicas e que necessitam de cuidados contínuos.

Com a atuação conjunta da família, escola e profissionais de saúde que ofereçam informações de qualidade, acolhimento e oportunidades de desenvolvimento seguro, criam-se condições para que adolescentes e jovens façam escolhas conscientes, enfrentem desafios com resiliência e tornem-se adultos saudáveis, autônomos e preparados para participar plenamente da vida social e profissional.

 

Relatora:

Andrea Hercowitz
Coordenadora do Grupo de Trabalho da Fase de Transição para a Vida Adulta da SPSP
Membro do Departamento Científico de Adolescência da SPSP
Membro do Núcleo de Estudos dos Direitos da Criança e do Adolescente da SPSP