O Dia dos Filhos é celebrado todo dia 23 de setembro. Essa data comemorativa parece um tanto estranha; afinal, todo ser humano é filho (ou filha). Já nasce nessa condição, uma vez que não há vida humana fruto de geração espontânea. Nesse sentido, essa data poderia ser nomeada de ‘Dia do Ser Humano’.
Então, qual é o objetivo dessa comemoração?
A ciência, hoje, nos possibilita gerar descendentes sem que saibamos de que matriz genética o novo ser tenha vindo. As atuais técnicas de inseminação e fertilização garantem o sucesso dessa empreitada. Então, podemos ter filhos (ou filhas) que não sabem quem são seus pais biológicos. Hoje, ainda, necessitamos de um útero de mulher para gerar um novo ser humano. Em teoria e na ficção científica, entretanto, existe a possibilidade de que essa gestação se dê em úteros artificiais. Com o cenário descrito, a figura do(a) genitor(a) pode se tornar confusa e despersonalizada, esmaecendo o protagonismo e o glamour dessa função.
Todos somos filhos(as), porém, nem todos os filhos(as) são pais ou mães.
Uma palavra emerge da ‘desconstrução’ feita acima, neste texto – a palavra CUIDADO. Nossa espécie, diferentemente das outras, não produz descendentes aptos para a vida, plenos para o exercício da sua autonomia. Eles necessitam de cuidados por um período longo até ganharem a sua independência. Outra palavra aflora – DEPENDÊNCIA.
Que ensino, então, deve ser resgatado na data que estamos comemorando?
O que nasce frágil e despreparado necessita de cuidados que devem lhe ser prestados necessariamente, sob o risco de que, em faltando, a vida desse novo ser corre perigo. Há uma relação a ser desenvolvida entre um e outro – o que carece de cuidados e aqueles que os oferecem. Outra palavra surge – RELACIONAMENTO.
Esse relacionamento, entretanto, é um processo peculiar, que deve ser urdido e fundamentado num elemento essencial – AFETO. Essa é mais uma palavra a chamar nossa atenção.
Parece que estas quatro palavras salientadas dão sentido à comemoração deste dia: CUIDADO – DEPENDÊNCIA – RELACIONAMENTO – AFETO.
Os filhos são um dom da vida e não uma posse, como bem lembrou o poeta:
“Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas do anelo da Vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora estejam convosco, a vós não pertencem.”¹
Filhos nos constrangem a amar e cuidar, educar sem aprisionar. Eles nos convidam a viver o amor de modo inteiro, mesmo nos gestos pequenos – um abraço, uma conversa, uma presença. Outro poeta já nos havia alertado:
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”²
O Dia dos Filhos tem como objetivo: Valorizar o papel dos filhos na vida familiar; Fortalecer vínculos afetivos entre pais, mães e filhos; Promover momentos de convivência e diálogo dentro da família; Ressaltar a importância do cuidado, da educação e do afeto na relação entre gerações. É, também, uma maneira de incentivar a reflexão sobre os direitos das crianças e adolescentes, aproximando o sentido da comemoração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Saiba mais:
- O profeta. Khalil Gibran, 1923.
- Odes (reunidas na edição de Poemas de Ricardo Reis, 1946. (Fernando Pessoa utilizou nessa obra um de seus heterônimos.)
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP


