Vacinação é fundamental para a erradicação da poliomielite

Vacinação é fundamental para a erradicação da poliomielite

A poliomielite é uma doença altamente infecciosa, causada por um poliovírus que afeta principalmente as crianças menores de cinco anos, sendo transmitida por via fecal-oral. O quadro clínico varia em gravidade, desde formas inaparentes ou com sintomas leves, como febre, mal-estar, cefaleia, sintomas gastrointestinais, até paralisia flácida e atrofia permanente, geralmente unilateral, em membros inferiores. Um em cada 200 infectados desenvolve uma paralisia irreversível e, dentre estes, 5%-10% morrem quando há o comprometimento da musculatura respiratória. Não há tratamento, mas há prevenção.

A vacina pólio oral (VOP) mudou o cenário mundial da poliomielite. A VOP é uma vacina produzida com o poliovírus enfraquecido que estimula a imunidade contra a poliomielite. A Iniciativa Global de Erradicação da Pólio criada em 1988 teve muito sucesso com a redução dos casos. Porém, dois países, Paquistão e Afeganistão, ainda apresentam casos. Até que a transmissão do poliovírus seja interrompida nesses países, todos os países permanecem em risco de importação de pólio.

O último caso de poliomielite registrado no Brasil foi em 1989, na cidade de Souza, na Paraíba, e o Brasil, com os demais países da América, obteve o certificado de área livre do poliovírus selvagem em seu território desde 1994, conferido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

A partir de então, o Brasil assumiu um compromisso com a Organização Mundial da Saúde (OMS) de não permitir a reintrodução da doença no país. Para isto, precisamos manter altas coberturas vacinais, ou seja, que a população menor de cinco anos seja vacinada.

Com a vacinação, dos três tipos de poliovírus, o sorotipo 2 (P2) e o sorotipo 3 (P3) desapareceram em 1999 e 2012, respectivamente. O sorotipo 1 (P1) é o que tem causado os casos de poliomielite nos últimos anos em países endêmicos (Afeganistão e Paquistão). Além desses tipos selvagens, a poliomielite pode ser causada por um poliovírus derivado da vacina pólio oral (VDPV), quando o vírus vacinal excretado no ambiente, apesar de enfraquecido, readquire a capacidade de causar a doença, levando a surtos em locais onde há baixa cobertura vacinal.

Devido a isto, para manter o país livre da poliomielite, conforme a orientação da OMS, progressivamente a VOP foi retirada do calendário da criança e, desde novembro de 2024, as crianças recebem apenas a vacina pólio inativada (VIP) aos 2, 4 e 6 meses, com uma dose de reforço aos 15 meses. A VIP não causa poliomielite porque não é uma vacina viva. Então, no Brasil, a vacina pólio oral não é mais administrada. No entanto, o Zé Gotinha não se aposentou; ele é um símbolo das Campanhas Nacionais de Vacinação.

Há um esforço mundial para a erradicação da poliomielite, ou seja, para que o poliovírus não seja mais detectado, não circule mais e não ocorram mais casos da doença. O trabalho constante das equipes de saúde para garantir a vacinação mesmo em locais de difícil acesso, como locais acometidos por catástrofes naturais, enchentes, terremotos, ou guerras, é louvável. Em nosso meio, tem sido observada, desde 2016, uma queda progressiva na cobertura vacinal para poliomielite, assim como para outras vacinas, o que se agravou durante a pandemia da Covid-19. As campanhas de multivacinação para atualização vacinal são importantes para melhorar estes números.

É importante mantermos altas coberturas vacinais, porque se houver casos de pólio provenientes de outros países (casos importados), pode haver disseminação do vírus entre as crianças não vacinadas e surgirem casos após 36 anos sem registro de poliomielite em nosso país.

Então, neste Dia Mundial de Combate à Poliomielite, devemos lembrar da vacinação como medida fundamental para a prevenção de casos de pólio, uma doença que pode ser grave e deixar sequelas permanentes, e que está caminhando para a erradicação.

 

Saiba mais:

  1. World Health Organization Weekly epidemiological record. Polio vaccines: WHO position paper – June 2022; 97: 277-300.
  2. World Health Organization. Highlights of new wild poliovirus and cVDPV positives reported globally this week. Disponível em: application/pdf 44_Polio_Global_update_02Nov2022_.pdf — 1433 KB.
  3. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac” – Divisão de Imunização. Documento Técnico: Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite e Multivacinação para Atualização da Caderneta de Vacinação da Criança e do Adolescente. 03/08/2022. Estado de São Paulo. Disponível em: https://www.cosemssp.org.br/wp-content/uploads/2022/08/Documento-Tecnico-Campanha-Polio-e-Multi_03-08-2022.pdf. Acesso em 05/12/2022.

 

Relatora:
Alessandra Ramos
Membro do Departamento Científico de Imunizações da SPSP