A criança que não come

A criança que não come

dreamstime_xs_21867273Toda criança passa pela fase da dificuldade em comer/aceitar coisas novas? Por quê?
Essa é ainda uma das principais queixas do consultório do pediatra. O estímulo ao aleitamento materno desde a primeira hora de vida, exclusivo até o 6º mês, em livre demanda, estendido até 2 anos ou mais é um bom começo. Quando a mamãe se alimenta com uma dieta variada, os alimentos passam seus sabores para o bebê através de seu leite. Isso faz com que qualquer tipo de alimento saudável que vá ser oferecido à criança passe a não ser novo. Quando se inicia a alimentação complementar, após o 6º mês, a refeição da criança passa por modificações de cores, consistências, temperaturas e até de dinâmica de alimentação. A criança precisa usar todos seus sentidos para conhecer o alimento (tato, visão, audição, olfato e por fim o paladar) e assim se interessar em experimentá-lo. Forçar essa situação pode trazer efeitos opostos aos desejáveis, com a recusa alimentar que pode se estender a outras novas experiências.
Outro fator importante é que, como a velocidade de crescimento vai caindo com o tempo, a necessidade alimentar e o apetite de forma geral também diminui. Estudos feitos aqui no Brasil e nos EUA, mostram que, para que se aceite que uma criança rejeita determinado tipo de alimento, é necessário oferecer esse alimento entre 10 (aqui) e 17 vezes (EUA). Assim, não se deve desistir após uma ou outra tentativa. Aguarda-se um tempo e volta-se a oferecer o mesmo alimento, tentando em formas e consistências diferentes.

Como lidar com essa fase? O que fazer quando definitivamente a criança não quer abrir a boca?
Cada caso é um caso e precisa ser avaliado individualmente. Nem todos reagem da mesma forma. Nunca foi descrito na medicina crianças que façam greve de fome ou que “morram de fome” à frente de um prato de comida. Dessa forma, como em quase todas as situações de desenvolvimento, há que se observar, aprender a esperar e a respeitar o tempo das crianças, individualmente de cada uma delas. Oferecer, sempre. Forçar, não.

É verdade que a maneira como se trata essa fase pode levar a distúrbios alimentares no futuro?
Sempre que, por alguma razão, a criança (ou até mesmo nós adultos) é forçada a fazer algo que ela não quer ou não gosta, ela vai reagir de forma aguda e algumas questões podem marcá-la no futuro. Forçar uma criança a comer pode fazer com que, a cada vez que se aproxima a hora da refeição, este momento se transforma mais em um campo de batalha do que num lugar onde a família se encontra, conversa, interage e se alimenta, além dos ânimos da casa já se transformarem. A mãe treme, o pai se irrita, a criança chora, as avós se desesperam… que cenário, hein? Anorexia, bulimia, neofobia alimentar são quadros que podem ter a influência de uma atitude inadequada no que diz respeito a um excesso de estresse na hora das refeições, a médio e longo prazo. Se a criança continuar crescendo e ganhando peso dentro da sua curva de crescimento, os pais devem ficar tranquilos, por outro lado, se a falta de apetite for acompanhada de parada real de crescimento, cabe ao pediatra investigar e indicar os medicamentos necessários.

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Relatores:
Dr. Moises Chencinski
Dr. Tadeu Fernando Fernandes
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

Publicado em 05/01/2014.
photo credit: Serhiy Kobyakov | Dreamstime.com

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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