A escolha da especialidade

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 15/10/2020


Existem vários motivos – pessoal, social, científico, prático – para o estudante de Medicina, ou mesmo o médico recém-formado, escolher a sua especialidade. Pode ser por uma decisão pessoal, uma simpatia imediata com a especialidade, que não tem explicação aparente, uma vocação. Talvez, por acreditar que suas habilidades se ajustam à área ou por causas sociais, por exemplo, influência do pai, de um familiar, de um professor, de amigos, de profissionais da especialidade e outras circunstâncias. Pode ser interesse pelo conteúdo programático e científico da especialidade. Ou até por motivos práticos, como a maior facilidade de encontrar trabalho ou o aspecto econômico avaliado para a especialidade. Qualquer que seja a motivação, só o tempo dirá se acertou ou não. A única certeza desse momento de escolha é que para acertar, precisará amar o que faz.             

Olho pela janela do tempo e vejo o dia em que, estudante do quinto ano, atendi uma criança com febre no ambulatório. No exame físico encontrei as manchas de Koplick em sua mucosa oral. Falei para a mãe: “seu filho está com sarampo, amanhã vão aparecer manchas no corpo”. Aquela era uma época de grande mortalidade das crianças. As causas neonatais, a diarreia, a desidratação, a desnutrição grave, o sarampo, as infecções respiratórias, entre outras, ameaçavam a população infantil do país. A mortalidade infantil estava em 3 dígitos. Naquele dia, mesmo percebendo o imenso desafio de exercer e aprender a vasta Medicina pediátrica, finalmente decidi: vou ser pediatra.

Hoje sou pediatra há 52 anos. Quanta coisa mudou nesse meio século! Entretanto, a essência da Pediatria não mudou: cuidar da criança e do adolescente para que se transformem em adultos saudáveis e longevos. O compromisso do pediatra é fascinante, ultrapassa uma consulta ou um atendimento de urgência. O trabalho do médico pediatra se prolonga em oferecer assistência médica a crianças e suas famílias, com ou sem doenças, oferecendo também promoção da saúde e educação. A puericultura e a Pediatria, o diagnóstico e o tratamento das doenças. No dia a dia da profissão o mercado de trabalho para o pediatra é muito amplo, são várias áreas de atuação.   

O grande progresso científico e tecnológico da humanidade, que cada dia será maior, traz a imensa tarefa de reformular as bases da Medicina. Ao longo desse século atual teremos, com certeza, novas maneiras de exercer a Medicina pediátrica, mantendo intactos seus objetivos pétreos. A Pediatria continuará com a sua essência e será sempre uma escolha fascinante, uma especialidade para a vida toda. Eu faria tudo de novo!

Relator:
José Hugo de Lins Pessoa
Ex-presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (gestão 2007-2009).
Membro do Conselho Consultivo da SPSP (gestão 2019-2022).
Membro da Academia Brasileira de Pediatria.