A importância das imunizações

A importância das imunizações

Os programas de imunização são considerados uma das mais importantes conquistas da saúde pública do mundo. Junto com a água tratada e melhoria do acesso aos serviços de saúde, as imunizações contribuíram de forma definitiva e relevante para o aumento da expectativa de vida na maioria dos países, propiciando ainda reduções nas dramáticas taxas de mortalidade infantil registradas em um passado não distante. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as campanhas de vacinação evitam 2 a 3 milhões de mortes anualmente no mundo. Para lembrar sua importância, é comemorado no dia 9 de junho o Dia Nacional da Imunização.

Consagradas como um dos mecanismos mais eficazes na defesa do organismo contra as infecções de uma maneira geral, as vacinas, presentes na humanidade há mais de dois séculos, foram essenciais para alcançarmos a erradicação (ausência de casos da doença no mundo todo, não sendo mais necessárias as medidas de controle) da varíola em 1980, doença que foi responsável pela morte de 300 milhões de pessoas somente no século 20; a eliminação da poliomielite, do tétano neonatal, da rubéola e da rubéola congênita (ausência de casos em uma região, mas ainda com registros no mundo, sendo, portanto, necessária a manutenção de medidas de controle).

Os programas de imunização contribuíram, ainda, para o controle do tétano acidental (em 2019, 2020 e 2021 foram confirmados, respectivamente, 220, 176 e 154 casos em todo o território nacional), da coqueluche, da difteria (em 2019, 2020 e 2021 foram confirmados, respectivamente, 3, 2 e 1 casos em todo o território nacional) e de diversas outras doenças, outrora responsáveis por elevadas taxas de hospitalizações, sequelas e mortes entre crianças e adolescentes, reduzidas a um pequeno número de ocorrências. 

O atual calendário de vacinas fornecido pelo Ministério da Saúde no Brasil, por meio do chamado Programa Nacional de Imunizações (PNI), é um dos mais completos de todo o mundo, contemplando, praticamente, todas as vacinas disponíveis e necessárias na atualidade.

No entanto, depois de décadas atingindo elevados índices de cobertura vacinal no Brasil, o PNI tem identificado importante queda nestes índices, em todas as vacinas que compõem o calendário, inclusive nas vacinas do primeiro ano de vida, período de vulnerabilidade a diversas doenças infecciosas imunopreveníveis. 

As vacinas, de certa forma, tornaram-se órfãs de seu próprio sucesso. A eliminação de doenças, ou mesmo o seu controle, fez com que as novas gerações, por desconhecê-las, subestimem a sua potencial gravidade, questionando a necessidade de manter seus filhos vacinados contra estas doenças, com consequente risco de reintrodução ou recrudescimento de doenças controladas ou em processo de eliminação no país.

À medida que o SARS-CoV-2 se espalhou rapidamente pelo mundo a partir de 2020 e os governos buscaram conter a transmissão, muitos serviços de saúde, especialmente a imunização de rotina, enfrentaram graves interrupções. Tais efeitos decorreram de inúmeros fatores, incluindo restrições de viagem e políticas públicas que visaram reduzir as oportunidades de contato social entre as pessoas, o direcionamento de profissionais de saúde para trabalhar na linha de frente de enfrentamento à covid-19 e o cancelamento ou adiamento das visitas médicas, por receio de exposição ao vírus.

Em decorrência desta situação, a procura aos postos de vacinação diminuiu nos países, e as coberturas vacinais, que já estavam comprometidas, ficaram ainda menores, aumentando o risco da ocorrência de novos surtos de doenças passíveis de prevenção por vacinas.

O sarampo é um exemplo emblemático do fenômeno que vivemos atualmente. Esta doença encontrava-se eliminada em nosso país até há pouco mais de 4 anos. Entretanto, a partir de 2018, em consequência de baixas e heterogêneas coberturas vacinais no Brasil, foi observado um recrudescimento do sarampo com confirmação nos últimos 4 anos de aproximadamente 40 mil casos e 40 mortes, a maioria delas em crianças.

Finalmente, dentro do contexto epidemiológico que vivemos neste momento, faz-se importante destacar que as vacinas contra a covid-19 mudaram a história natural da pandemia. A despeito do substancial aumento de casos de covid-19 verificado nas últimas semanas, vivenciamos um cenário totalmente diverso do observado no ano passado. A letalidade é hoje muito menor, assim como as taxas de hospitalização e de complicações graves da doença. Entretanto, enfrentamos ainda dificuldades em conseguir melhores coberturas da vacina contra o novo coronavírus no grupo de crianças e de adolescentes. Entendemos que a situação é complexa, multifatorial e deve ser enfrentada com muita seriedade.

Neste contexto, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), nesta data comemorativa pelo Dia Nacional da Imunização, rende uma homenagem ao PNI e reafirma seu compromisso de contribuir com a divulgação de informações de qualidade, esclarecendo a população e buscando a melhoria das coberturas vacinais em nossas crianças e adolescentes e a retomada nas inúmeras conquistas que sempre caracterizaram o exitoso Programa Nacional de Imunizações do Brasil.  

 

Saiba mais:

  1. Organização Pan-Americana da Saúde – (PAHO).
  2. Immunization [Internet].
  3. PAHO/WHO. Rubella – Elimination of rubella and congenital rubella syndrome in the Americas.

 

 

Relator:

Marco Aurélio P. Sáfadi

Presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo

 

Foto: didesign I depositphotos.com