A importância de se avaliar a saúde mental e o risco de suicídio em adolescentes

A importância de se avaliar a saúde mental e o risco de suicídio em adolescentes

A adolescência para a OMS (Organização Mundial da Saúde) inicia-se aos dez anos e estende-se até os 19 anos completos. Essa é uma fase complexa, em que o meio ambiente interage com as particularidades do desenvolvimento físico e psicológico, sendo um importante agente de agravos à saúde. As quatro principais causas de morte de adolescentes no Brasil são de fatores externos. A taxa de mortalidade/100.000 habitantes na faixa etária de 10 a 24 anos, das 4 principais causas, em 2019, nas meninas foram: acidentes de trânsito: 6,1; violência interpessoal (homicídio): 6,0; transtornos maternos: 2,3; autolesão (suicídio): 2,0. E nos meninos foram: violência interpessoal: 78,9; acidentes de trânsito: 26,6; autolesão: 6,5; afogamento: 5,3.

Em estudo de 2016, 30% dos adolescentes brasileiros apresentavam doença mental. No último censo sobre saúde escolar (PeNSE, 2019), 21% dos adolescentes avaliados referiam que a vida não valia a pena ser vivida na maioria das vezes ou sempre nos últimos 30 dias da pesquisa. Nos últimos anos, tem sido notificado um aumento dos casos de suicídios no Brasil em todas as faixas etárias, mas chama a atenção a sua ocorrência na infância e principalmente entre 15 e 19 anos.

Se a saúde mental dos adolescentes já não estava boa, a pandemia a afetou ainda mais, pois levou ao isolamento social, afastou os adolescentes da escola e de seus amigos, gerou o luto pela perda de familiares, aumentou incertezas e inseguranças. O impacto da pandemia na saúde mental dos adolescentes não ocorreu somente no Brasil; no mundo todo se observou aumento de casos de suicídios nessa faixa etária.

Os adolescentes mais vulneráveis são os que têm história familiar de tentativas de suicídio ou suicídio, problemas de saúde mental dos pais, questões quanto à orientação sexual e/ou identidade de gênero, histórico de abuso físico, psíquico ou sexual, abuso de álcool ou outras substâncias psicoativas (álcool, maconha, cigarro e outras drogas). Entretanto, existem dois fatores socioambientais que são muito relevantes na infância e adolescência – o bullying e o uso abusivo de internet.

O bullying continua sendo muito frequente nas escolas e, em alguns países como a Inglaterra, foi associado a 50% das tentativas de suicídio. É importante salientar que essa alta associação entre bullying e suicídio ocorre tanto para quem é alvo de bullying como para quem o pratica. O mau uso ou o uso abusivo da internet está associado ao risco aumentado de depressão, de exposição ao cyberbullying e ao fácil acesso a informações sobre tópicos relacionados ao suicídio.

Por tudo isso, apesar da adolescência ser um período de poucas infecções e os pais se preocuparem menos com a saúde física de seus filhos, é importante manter consultas médicas periódicas. Nessa fase, a partir dos dez anos, a consulta médica deve incluir um período de entrevista somente com os adolescentes, sem a presença dos pais ou responsáveis, para que se avaliem comportamentos de risco, a saúde mental deles e para que se possa realizar intervenções preventivas. É importante o uso de questionários padronizados para que a percepção e os vieses do profissional não influenciem sua avaliação.

O médico pediatra conhece o adolescente e a família em um acompanhamento de longo prazo e, portanto, conhece a dinâmica familiar e pode auxiliar os pais a terem um papel positivo junto aos adolescentes e jovens, para que estes desenvolvam ferramentas sociais que os auxiliem no autocuidado.

 

Figura 1: Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, por idade 2010-2019

Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde 4 Volume 52 | Nº 33 | Set. 2021

 

Procure Ajuda

Caso você perceba que seu filho esteja com sofrimento emocional, praticando autoagressão não suicida (cutting), esteja se isolando, deixando de fazer coisas que antes considerava prazerosas e que esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada. Você pode falar com seu pediatra, psicólogo ou procurar um CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) de sua cidade. Ou ligue para o CVV (Centro de Valorização da Vida) https://www.cvv.org.br/, que funciona 24 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados, pelo telefone 188, pelo e-mail, chat ou pessoalmente (verifique se existe um posto de atendimento em sua cidade).  

 

Relatoras:
Elizete Prescinotti Andrade
Lilia D’Souza Li
Departamento Científico de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Foto: hay dmitriy | depositphotos.com