A obesidade e suas complicações ortopédicas

A obesidade e suas complicações ortopédicas

dreamstime_xs_20698331Os canais de comunicação vêm apresentando resultados de pesquisas de algumas características do mundo moderno. Um dado notável dos últimos cinquenta anos é o aumento de mais de três vezes na prevalência de crianças obesas nos Estados Unidos, Brasil e em outros países. A obesidade pode levar às complicações conhecidas como: doenças cardiovasculares, risco aumentado de câncer, diabetes mellitus, apneia, alterações psicossociais, persistência da obesidade na vida adulta.

Complicações um pouco menos abordadas são as doenças musculo-esqueléticas. Vamos falar um pouco sobre elas.

Dor na coluna lombar
A dor lombar pode ser resultante da geometria da vértebra. Ossos mais largos são mais fortes que os estreitos. Meninos possuem área óssea vertebral maior e mais larga que meninas e estas apresentam frequentemente mais dor lombar. O estirão puberal é o período em que ocorre crescimento acelerado. Nessa fase, a dor lombar pode ser mais prevalente, pois há maior dissociação entre o peso corporal e a massa óssea. A dor lombar pode influenciar as atividades escolares e de lazer. Deve-se ficar atento ao aumento de peso para evitar excesso de carga e estresse na coluna lombar. A dor pode levar à faltas escolares e inatividade física, contribuindo para a piora da obesidade.

Epifisiólise da Cabeça Femural (escorregamento da cabeça do fêmur)
Esta condição acontece quando há uma alteração na porção do fêmur que se encaixa na pelve, fazendo todo o membro acometido girar para fora. Geralmente ocorre no estirão puberal, é de evolução lenta e sua causa exata é desconhecida. A obesidade é um fator de risco. A criança pode ter pode dor no joelho, quadril ou coxa e um RX de bacia ajuda no diagnóstico.

Alterações de membros inferiores
O joelho é outra articulação que sofre com excesso de peso. Alterações como o genu-valgo (quando o joelho desvia para dentro formando um X ao se unir as pernas) e o genu-varo (pernas em arco) podem ocorrer e levar a dor. Geralmente é fisiológico (natural) e não necessita de correção cirúrgica. Mas é recomendável o reconhecimento para que o tratamento ajude a restaurar a biomecânica do membro.

Risco de fraturas
Estudos observaram que a ocorrência de fraturas é maior nos obesos. Também neles são mais frequentes dores na região lombar, no quadril, pernas, tornozelo, pé ou joelho. O pico de incidência de fraturas em crianças coincide com o estirão puberal. Neste período, há dissociação entre o crescimento longitudinal e o ganho mineral. Isso aumenta a fragilidade óssea e altera a qualidade e arquitetura do osso. A obesidade nessa fase pode favorecer o risco de fraturas nas quedas, já que o desenvolvimento ósseo não consegue se adaptar adequadamente ao excesso de peso. O desbalanço entre peso/massa óssea pode levar ao desenvolvimento de osteoartrite nos anos posteriores. Crianças obesas podem cair com maior força e de maneiras mais inusitadas que crianças com peso adequado. Foi observado que as primeiras apresentam quedas dentro de casa e de pequenas alturas visto que, em geral, evitam subir em estruturas altas. Podem ter alterações na postura e diminuição do equilíbrio devido à inatividade.

Pontos de atenção
Crianças que apresentam dor músculo-esquelética são menos predispostas a gostar e a participar de atividades físicas, favorecendo o aumento do peso. O incentivo à prática de atividades físicas favorece o controle do peso, aumenta a noção do corpo no espaço, dá mais equilíbrio, aumenta o tônus muscular e também a massa óssea, diminuindo o risco de fraturas. Sendo assim, as complicações musculo-esqueléticas devem ser observadas, diagnosticadas e tratadas adequadamente, pois podem persistir e progredir na vida adulta. Vale a pena ressaltar que, quando crianças e adolescentes com excesso de peso, principalmente se estiverem na puberdade, apresentarem dor em membros inferiores, dor para andar, dor na região da coluna, eles devem ser avaliados com cuidado.

Sugestão de consulta: www.abeso.org.br.

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Relatora:
Dra. Patrícia D. C. Tosta-Hernandez
Departamento Científico de Endocrinologia da SPSP

Publicado em 20/01/2014.
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