Acidentes de trânsito com crianças e jovens. Como prevenir?

Acidentes de trânsito com crianças e jovens. Como prevenir?

Sabe-se que a maioria dos atropelamentos ocorre durante o dia, na calçada, longe de cruzamentos. Cerca de 30% acontecem enquanto a criança está atravessando na faixa de pedestre, o que reflete uma falsa percepção de segurança e supervisão insuficiente. Além disso, o risco é maior em ruas e avenidas com circulação de muitos veículos (o número de ruas que a criança atravessa também influencia).

Outros fatores importantes são idade: entre 3 e 12 anos, sexo masculino, locais em que a velocidade permitida é superior a 40 km/h, falta de locais seguros para brincar perto de ou em suas casas, aglomerados familiares e baixo nível socioeconômico.

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Menores de 5 anos correm em direção à rua, têm pouca habilidade para julgar a distância e velocidade dos veículos e se distraem facilmente por seus pares ou com outros estímulos do ambiente. Crianças pequenas podem não ser vistas pelo motorista quando atrás do veículo, ao brincar na rua, na frente de garagens. A visão traseira em muitos veículos pode ter um ponto cego de até 15m atrás do carro – isso pode facilmente “esconder” a criança. Menores de 10 anos não possuem ainda habilidades suficientes e adequadas para enfrentar o trânsito, fato este desconhecido por muitos pais.

Segundo a OMS, são cinco os fatores-chave (primários) para o risco de atropelamento: a velocidade do veículo, o consumo de álcool pelos motoristas e pedestres, a falta de um ambiente construído para a segurança, a visibilidade inadequada dos pedestres e a legislação de trânsito insuficiente ou mal aplicada.

Outros fatores (secundários) também são importantes, destacando-se: falta da supervisão das crianças, direção perigosa, motorista e/ou pedestre distraídos (com o celular) ou cansados, conflitos entre motoristas e pedestres nos cruzamentos, falta de habilidade da criança em julgar a velocidade dos veículos e compreender as regras do comportamento de segurança no trânsito (particularmente menores de 10 anos), falha do motorista em dar preferência ao pedestre, parar em cima da faixa de segurança.

As medidas eficazes para proteger o pedestre são:

-Medidas físicas para separar pedestres de veículos, playgrounds cercados e afastados de ruas movimentadas, cercas impedindo o cruzamento de vias mais movimentadas, calçadas limpas e próprias para uso em toda a sua extensão.

-Ruas com mão única e estacionamento restrito, tráfego de automóveis desviado da proximidade de escolas, limites de velocidade mais baixos e controlados efetivamente por leis bem aplicadas, controladores eletrônicos de velocidade e/ ou quebra-molas.

-Controle efetivo do ato de beber e dirigir, transporte público adequado e acessível, pedestres com vestimentas mais visíveis e design de veículos que protejam o pedestre.

Fonte: World Health Organization. Pedestrian safety: a road safety, manual for decision-makers and practitioners. Geneva: WHO; 2013. Disponível em Português: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/79753/9789275718117_por.pdf;jsessionid=209BD007EBC5808CB44716C1BFD0C92A?sequence=7

Criança como ocupante do veículo

O transporte adequado e seguro de crianças e adolescentes em veículos a motor pode reduzir 71% das mortes e 67% de lesões graves.

O local mais seguro é no meio do banco traseiro do veículo, desde que estejam devidamente restritos em assentos apropriados para suas idades e tamanhos e os assentos presos com cintos de segurança de 3 pontos do veículo (como explicado no quadro abaixo).

A segurança da criança e do adolescente como passageiros pode ser analisada em quatro etapas, sendo que cada transição resulta em diminuição na proteção. Os dispositivos de segurança para crianças e adolescentes como passageiros encontram-se esquematizados abaixo.

Do nascimento até a criança ter ultrapassado o limite máximo de peso ou altura permitido pelo fabricante. Não tem limite superior de idade (até os 2 ou 3 anos de idade). Deve ser instalado de costas para o painel do veículo, de preferência no meio do banco de trás, preso pelo cinto de segurança ou pelos sistemas de ancoragem para assento infantil Isofix, i-Size ou LATCH, em conformidade com as normas europeia ou americana. Criança atingiu o limite máximo do assento bebê-conforto (em peso ou estatura), passa para o assento (cadeirinha) com cinto de segurança próprio, pelo maior tempo possível (até o limite máximo de peso ou altura permitidos pelo fabricante). Vários modelos acomodam crianças pesando até 22 kg, o menor limite máximo de peso é de 18 kg (entre 3 e 7 anos). Criança atingiu o limite máximo permitido da cadeirinha de segurança, deve migrar para o assento elevatório (booster), até que o cinto de segurança de 3 pontos do veículo adapte-se com perfeição (faixa subabdominal passa pela pelve, a faixa transversal pelo meio do ombro e do tórax e os pés encostando no chão do veículo) – quando chegar a 1,45 m de altura (entre 9 e 13 anos). Se o carro tiver somente cintos subabdominais, o booster não deve ser usado. O cinto de segurança só pode ser usado se as costas tocarem no encosto do assento, com os joelhos dobrados confortavelmente e os pés encostando firmemente no chão, as faixas passando pelo meio do ombro e do tórax e pela pelve. A estatura mínima para usar o cinto de segurança do carro é de 1,35 m (padrão europeu) e 1,45m (padrão norteamericano). Todos devem viajar no banco traseiro até os 13 anos de idade.

Fonte: 1. Blank D. O pediatra e a segurança dos ocupantes de veículos automotores. Documento Científico – Sociedade Brasileira de Pediatria; 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/o-pediatra-e-a-seguranca-dos-ocupantes-de-veiculos-automotores/

2. Modificado de: National Highway Traffic Safety Administration. Car Seats and Booster Seats. Disponível em: https://www.nhtsa.gov/equipment/car-seats-and-booster-seats

Criança como ciclista

A maioria das lesões que a criança ou o adolescente sofre ao cair da bicicleta é o trauma de crânio, muitas vezes grave e fatal.

A principal medida de prevenção se faz através do uso adequado de capacete, que reduz o risco de lesão craniana em até 85%, de traumatismo no cérebro em até 88% e de lesões de face em até 65%.

O capacete deve se ajustar perfeitamente à cabeça, ser confeccionado de espuma rígida e deformável, ter forro de poliestireno firme e ser coberto por uma fina camada plástica. Colocar diretamente no topo da cabeça, cobrindo a parte superior da região frontal (da testa), estando paralelo ao chão, encaixar-se bem, não se mover nem para a frente e tampouco para trás.

E as ciclovias são o meio de maior sucesso em separar ciclistas dos veículos a motor.


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Relatores
Renata D. Waksman
Sarah Saul
Alexandre Hirata
Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade de Pediatria de São Paulo



Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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