Introdução: A neutropenia induzida por Vancomicina (NIV) pode ocorrer em 2% dos casos de uso prolongado, podendo cursar, também, com trombocitopenia ou até pancitopenia. Apesar de ainda pouco compreendido, acredita-se que seu mecanismo seja imunomediado. Este relato objetiva contribuir ao âmbito científico com a discussão de um caso de NIV na pediatria e endossar a relevância do acompanhamento clínico e laboratorial e manejo do quadro.
Descrição do caso: Trata-se de uma escolar, 6 anos, com quadro de osteomielite orbitária à esquerda evidenciada em TC de crânio e seios da face, após celulite orbitária ipsilateral. Foi realizado tratamento com Cefepime e Vancomicina endovenosos por 32 dias. Ao término, hemograma de controle evidenciou leucopenia de 2.400 céls/mm³, com 72 neutrófilos/mm³ e com algumas células com características blásticas, linfócitos reativos e plaquetas gigantes. Após análise de lâmina pela Hematologia Pediátrica, suspeitou-se de NIV, sendo suspenso o tratamento vigente, substituído por Amoxicilina+Clavulanato 875+125mg, em vista da melhora evolutiva significativa do quadro infeccioso. Após 7 dias de suspensão, leucograma atingiu 5.700céls/mm³ e, após 10 dias, 14.400 leucócitos/mm³, com neutrófilos dentro da normalidade, mantendo acompanhamento ambulatorial.
Discussão: O conhecimento sobre a farmacologia, diluições e segurança da vancomicina em neonatos e crianças ainda é muito debatido e seu uso prolongado pode favorecer a ocorrência de efeitos colaterais. A NIV ocorre, tipicamente, após um mínimo de 12 dias da administração de Vancomicina, sem relação com dose ou diluição. Na paciente, as anormalidades foram identificadas ao final da antibioticoterapia, assintomática, sendo prontamente interrompida, com recuperação de seu leucograma após 7 dias, como descrito na literatura.
Conclusão: A monitorização é primordial para evitar que o quadro se torne uma emergência hematológica, com complicações mais graves, como neutropenia febril e sepse. Portanto, deve-se evitar terapia prolongada com vancomicina e, se necessária, deve haver seguimento clínico e laboratorial até normalização.