RELATO DE CASO: HEMATOMA EPIDURAL ESPONTÂNEO EM PACIENTE COM ANEMIA FALCIFORME

Introdução
Hematomas epidurais são emergências neurocirúrgicas, caracterizados por coleções de sangue no espaço peridural com compressão do parênquima cerebral. Geralmente são secundários a traumas mas podem ocorrer por causas não-traumáticas, incluindo anemia falciforme (AF).

Descrição do caso
A.C.F, 7 anos, portador de AF, admitido em hospital terciário de Belo Horizonte por dor lombar intensa, sem melhora após analgesia em domicílio. Evoluiu com síndrome torácica aguda, sendo iniciado tratamento e analgesia venosa. Posteriormente iniciou quadro de vômitos, cefaleia em região temporal esquerda, sonolência e confusão mental. Realizada tomografia computadorizada de crânio (TCC), com evidência de desvio de linha média e coleção axial em região temporal esquerda. Iniciado infusão com solução salina hipertônica e transfusão de concentrado de hemácias. Realizada abordagem neurocirúrgica, com craniotomia temporal esquerda e drenagem de hematoma epidural ipslateral. TCC pós-cirúrgica evidenciou melhora significativa do volume do hematoma, com redução do efeito de massa. Apresentou melhora progressiva do estado neurológico. Em TCC de controle, visualizado hematoma em processo de absorção avançado.

Discussão
Várias complicações com elevada morbimortalidade podem se desenvolver em pacientes com AF, incluindo acidente vascular encefálico e, raramente, hematomas epidurais. Nesse caso, os principais sintomas são cefaleia, vômitos, irritabilidade, alteração comportamentais e déficits neurológicos focais. A apresentação clínica, porém, é bastante variável e a maioria dos pacientes apresenta inicialmente sintomas relativamente comuns na AF. Sua fisiopatologia ainda não é completamente esclarecida, mas envolve infarto ósseo subjacente e/ou congestão e trombose venosos. A TCC é o método diagnóstico de escolha. O tratamento deve ser instituído rapidamente.

Conclusão
O índice de suspeição de hematoma epidural em pacientes portadores de AF não é alto, uma vez que são eventos raros e com sintomatologia inicial variável, o que pode levar a atrasos no diagnóstico e piores desfechos. São necessários mais estudos para identificar fatores de risco, bem como otimizar prevenção e tratamento.