Introdução: O uso excessivo de glicocorticóides na pediatria é comum e tem efeitos colaterais sistêmicos e cutâneos, como desenvolvimento de síndrome de cushing e alteração da cicatrização. Este relato de caso descreve a associação do uso inadvertido de corticoide tópico e seus efeitos adversos em um paciente pediátrico.
Descrição do caso: Menino, 3 anos e 5 meses, com dermatite atópica em uso diário de valerato de betametasona tópico desde os três meses de idade, atendido em pronto socorro. Encontrava-se normotenso, IMC=21,8 kg/m2, com fácies cushingoide, aumento da pilificação em face e em dorso e placas eritematosas descamativas disseminadas. Identificada lesão nodular (1,5cm de diâmetro) em deltóide de braço direito, amarelada e de base eritematosa, sem linfonodos associados e com relato materno de manutenção de tais características desde a vacinação da BCG. Internado para investigação diagnóstica de síndrome de cushing secundária ao uso inadvertido de corticoide tópico.
Discussão: A ação do corticóide tópico no tratamento de doenças cutâneas imunomediadas depende da sua potência, da frequência de uso e sua absorção cutânea, sendo maior em crianças e pacientes com dermatite atópica, possuem extrato córneo da pele reduzidos. O paciente descrito estava em uso prolongado de pomada de corticóide de alta potência (classe III) e desenvolveu sinais de hipercortisolismo, além de alteração de cicatrização devido ao seu efeito antiproliferativo. Para descartar síndrome de cushing, realizada dosagem sérica de cortisol às 8h com resultado dentro da normalidade, não caracterizando supressão do eixo HHA. Ademais, aventou-se hipótese de efeito adverso à vacina de BCG devido a alteração da cicatriz, sendo descartado após uso de Isoniazida (10 mg/kg/dia) por 44 dias, sem alteração da lesão.
Conclusão: É de fundamental importância atentar ao uso de corticóide tópico em crianças nos atendimentos em pronto-socorros, a fim de intervir precocemente e evitar seus efeitos adversos.
