Atos de violência em escolas

Texto divulgado 30/03/2023


Esta semana nos deparamos com mais um caso de violência extrema envolvendo um adolescente, que esfaqueou quatro professoras e dois alunos em uma escola em São Paulo. Essas notícias nos deixam chocados e indignados. Como um lugar que deveria proteger nossas crianças e adolescentes é invadido, tornando os próprios colegas e professores alvos de violência?

Segundo Ross Greene, psicólogo americano e autor dos livros “As crianças explosivas” e “Lost at school”, é a falta de importantes habilidades mentais que faz com que as crianças e adolescentes reajam com comportamentos desafiadores.

O comportamento desafiador aparece quando as exigências do ambiente excedem a sua capacidade de responder de forma adaptativa – eles acabam por reagir com uma intensidade e frequência muito acima do que seria esperado.

Quando as exigências excedem sua capacidade adaptativa, entram em um espectro de comportamento, podendo:

No espectro mais leve, chorar, fazer birra, ficar emburrados ou quietos;

Numa intensidade maior, gritar, chutar, destruir, mentir ou fugir;

E no quadro mais intenso surgem as autoagressões não suicidas (vomitar, se cortar, usar substâncias psicoativas), até chegar às heteroagressões (bater, apunhalar ou atirar).

A falta de habilidade não é uma desculpa e sim uma explicação para o comportamento. Entender o por que do comportamento desafiador é a parte mais importante para conseguir ajudá-los.

Experiências adversas na infância e adolescência, como sofrer violência, problemas domésticos, presenciar violência contra a mãe, separação dos pais, podem gerar estresse tóxico e pós-traumático.

E quão frequentes são essas experiências adversas na infância? Dados do Center for Disease Control (CDC) – https://www.cdc.gov/violenceprevention/aces – estimam que 61% da população norte-americana apresenta pelo menos uma experiência adversa na infância e 12% apresenta quatro ou mais. Estas experiências adversas ocorrem em todas as classes sociais, mas são agravadas em situações de vulnerabilidade social. E o mecanismo pelo qual influenciam a saúde está associado a fatores estruturais incorporados por gerações, como traumas históricos que afetam as condições sociais e o contexto local familiar.

Nosso propósito não é defender e nem justificar a violência, ou culpar o agressor, ou sua família, ou a escola.

Precisamos de políticas públicas que abordem os graves problemas estruturais, como desigualdade social e pobreza, que geram a violência que atinge a população jovem – a maior vítima de homicídio no Brasil. Enquanto não houver um programa para os cuidados de saúde dos adolescentes, não conseguiremos protegê-los e gerações de jovens continuarão sendo perdidas.

Crimes envolvendo adolescentes refletem um fracasso de toda a sociedade. Falhamos em proteger a infância e a adolescência. Falhamos em proteger os professores, que continuam acreditando e lutando pelo crescimento das nossas crianças e adolescentes.

Relatora:
Lília D’Souza-Li
Departamento Científico de Adolescência da SPSP