Aumento do consumo de doces durante a pandemia

Aumento do consumo de doces durante a pandemia

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 16/05/2022


Durante a pandemia, as pessoas ficaram confinadas em casa, com maior dificuldade para ir ao supermercado ou feiras livres, então, muitos optaram por alimentos industrializados por serem mais duráveis e mais baratos. Segundo o UNICEF, 54% das pessoas que participaram de uma pesquisa relacionada à alimentação durante este período reportaram mudanças de hábitos alimentares e 34% das famílias com crianças relataram aumento do consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas.

A infância, principalmente os primeiros anos, é um período importante para o desenvolvimento de preferências e do autocontrole de ingestão de alimentos. Os hábitos alimentares se constroem nos primeiros anos de vida. O açúcar é altamente calórico, desprovido de nutrientes e é hiperpalatável, levando a um desequilíbrio do paladar, fazendo com que a criança passe a preferir alimentos doces. Por ser hipercalórico leva ao ganho de peso e até à obesidade, se não houver gasto energético suficiente através das atividades físicas. Pode levar também à resistência à insulina, diabetes tipo II, hipertensão arterial, problemas ortopédicos e ainda causar danos aos dentes. Por tudo isso, é importante uma dieta equilibrada. O açúcar (hidrato de carbono) deve fazer parte da dieta e pode ser consumido de forma saudável através das frutas, cereais, sementes e legumes.

A alimentação na primeira infância inicia-se com o leite materno, que na sua constituição tem açúcar – a lactose – que tem muitas funções e, dentre elas, uma muito importante, a de estabelecer uma flora intestinal saudável. Por outro lado, o açúcar pode levar a um ganho de peso inadequado e causar doenças crônicas no adulto. A criança, segundo o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras menores de 2 anos – versão resumida (Ministério da Saúde/2021, pág. 40), já apresenta uma tendência natural a aceitar o paladar doce; se for acostumada a receber alimentos adoçados, poderá rejeitar aqueles que despertam outros sabores, podendo vir a ter dificuldade de comer verduras e legumes. Nessa fase é muito importante a construção do paladar. A alimentação variada estimula os sentidos com as cores, sabores e texturas diferentes.

O hidrato de carbono faz parte da nossa alimentação e não deve ser supervalorizado. A proibição exacerba a curiosidade e a criança entende que esse alimento dá prazer. O doce industrializado pode ser trocado por frutas, bolachinhas integrais e doces caseiros com ingredientes saudáveis. Deve-se evitar a frequência exagerada de alguns hábitos rotineiros, como a sobremesa doce ou fazer lanches contendo doce. Os pais podem variar usando açúcar de coco ou mascavo e ainda frutas de paladar doce nas preparações de sobremesas, a banana é uma ótima opção, além de sorvete de frutas, como o de manga. Se a criança já está acostumada a comer doces, a redução deve ser gradual. Precisamos lembrar também que o exemplo é uma forma muito importante de estímulo. 

O organismo da criança que recebe doce como prêmio estimula áreas do hipotálamo relacionadas ao prazer e ao sistema de recompensa. Desta forma, por entender que comer doce é uma forma de prazer, poderá ter consumo exagerado em situações de estresse ou tristeza.

A alimentação equilibrada deve ser preocupação de todos os indivíduos, em especial mulheres grávidas. Durante o desenvolvimento fetal, a mãe, através de ganho adequado de peso, dieta equilibrada e vida saudável, permitirá que seus filhos obtenham modificações no seu DNA (Ácido Desoxirribonucleico – é uma molécula que está presente em todas as células dos seres vivos e carrega toda a informação genética), que os protegerá das doenças crônicas do adulto. A continuidade dessa ação de proteção se dá através do leite materno, por mecanismos epigenéticos (são aqueles que podem ser herdados e não alteram a sequência do DNA na expressão dos genes), principalmente pela ação dos micro-RNAs (RNA é a sigla para o ácido ribonucleico, molécula responsável pela codificação da síntese de proteínas – que transmite informações genéticas do DNA) do leite humano. A má nutrição no início da vida pode contribuir para o maior risco de doenças crônicas no adulto. O nosso material genético é especialmente plástico em algumas fases do desenvolvimento, como a pré-concepção, desenvolvimento fetal, infância e puberdade, daí a necessidade de nutrição correta, exercícios físicos e ambientes adequados, fundamentais para o crescimento e a vida feliz e saudável.

 

Relatora:
Marisa da Matta Aprile
Membro do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo

 

Fonte: spotmatikphoto | depositphotos.com