Bruxismo infantil: conceito, causas e consequências

Bruxismo infantil: conceito, causas e consequências

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 12/04/2021


Bruxismo é conceituado como um comportamento caracterizado por uma atividade muscular repetitiva de ranger e/ou apertar de dentes. Esta atividade pode acontecer em vigília ou durante o sono. A ciência vem buscando as causas e consequências desta atividade muscular. Vamos explicar sobre este tema tão polêmico.

Fatores Associados

Muitos fatores estão associados, sendo mais marcantes aqueles ligados a personalidade ansiosa, estresse, refluxo gastroesofágico, características do sono (ronco e babar no travesseiro) e dificuldades de concentração nas atividades do dia a dia. Os pais devem estar atentos ao padrão de respiração das crianças durante a noite. Há evidências de que o bruxismo do sono pode estar relacionado a respiração pela boca e infecções das vias aéreas superiores. Desta forma, o diagnóstico de distúrbios respiratórios pelo otorrinolaringologista é importante não somente para prevenir bruxismo como também para melhorar a qualidade da respiração e do sono.

Quando os primeiros dentes de leite estão nascendo (os incisivos) acontece uma instabilidade na mordida e a mandíbula fica sem apoio na parte de trás das arcadas dentárias. Nesta fase, é normal o bebê ranger os dentes. Denomina-se aí o bruxismo chamado de fisiológico, considerado normal para esta fase.  Com a erupção dos dentes posteriores, a mandíbula tende a se estabilizar e este comportamento geralmente desaparece. Se persistir, o Odontopediatra deverá ser consultado.

Existe um padrão familiar do bruxismo, sendo comum que mais de um membro da família apresente este comportamento. A justificativa para isso costuma ser o padrão de comportamento adotado pelos familiares, que passa aos demais (semelhante à um modelo) e que pode ser uma fonte estressora, dependendo do estilo educativo familiar.

No ambiente escolar faz-se necessário observar a prática do bullying: os alvos (ou vítimas) são propensos a apresentar bruxismo. Neste caso, o dentista pode ter um importante papel como detector deste problema, uma vez que nem sempre os familiares têm conhecimento desta prática.

O vício em smartphones, tablets e videogames também pode ser um desencadear de bruxismo. O tipo de luz emitida pelos aparelhos estimula o cérebro (chamado “efeito luz azul”) e pode interferir na produção do hormônio do sono. Além disso, a postura do pescoço/cabeça durante o uso de telas pode levar à Síndrome do Pescoço de Texto, que é capaz de gerar dor na região cervical e predispor ao bruxismo.

Danos para a saúde

As consequências mais comuns do bruxismo são desgastes extensos nos dentes, fraturas de dentes e restaurações, cansaço e dores nos músculos da face e dores de cabeça.

Prevenção e cuidados

Até o momento não podemos afirmar que existe cura para o bruxismo, mas sim o seu controle. Esta é uma atividade muscular que pode ir e vir em diferentes momentos da vida do indivíduo. Entretanto, é importante trabalhar os fatores associados visando a melhor qualidade de vida da criança. O trabalho integrado com várias especialidades poderá ajudar na eleição da melhor maneira de prevenir ou de intervir.

O uso de placa interoclusal de acrílico tem sido proposto como forma de proteção ao desgaste e perda de estrutura do esmalte dos dentes permanentes. Evidências científicas ainda não apresentam fundamentos de que a placa leva a cura do processo.

 Veja aqui algumas dicas e orientações:

  • Introduzir atividades prazerosas na rotina diária (ex: esporte, artes).
  • Reduzir sobrecarga de tarefas do dia a dia.
  • Terapias psicológicas podem auxiliar.
  • Tranquilizar a criança antes de dormir com a utilização de técnicas de relaxamento, respiração, músicas calmas e aromas terapêuticos.
  • Buscar terapias complementares, tais como acupuntura, meditação e brincadeiras lúdicas (sem agitação antes de dormir).
  • Evitar dormir de luz acesa e/ou com TV ligada, assim como o uso de telas (smartphones) pelo menos uma hora antes de dormir


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Relatoras:
Júnia Serra-Negra
Silvia Chedid
Grupo de Trabalho de Saúde Oral da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Foto: wavebreakmedia | depositphotos.com