Carta a uma jovem mãe

Carta a uma jovem mãe

newborn-659685_1920Enfim, você vai maternar. O seu bebê nascerá e com ele a desejada vida nova, responsabilidades, experiências inimagináveis, dúvidas, alegrias, um ritmo até então desconhecido. E AGORA?

Bebê é movimento, é inicialmente mudança (ou perda) de uma rotina, é transformação. Seguem dicas, de uma jovem mãe para outra jovem mãe, para que esse momento seja o mais prazeroso possível.

Você já tem uma rede de apoio para as primeiras semanas de vida do bebê? Esposo, pais, irmãos, amigos? Quem vai te ajudar com os afazeres domésticos? Quem vai ficar com seu bebê enquanto você descansa, toma um banho gostoso? Essa rede é de fundamental importância, porque nós, mães e futuras mães, precisamos ser cuidadas para cuidarmos do nosso bebê.

Então vamos a eles, nossos filhos… O primeiro trimestre da vida pode ser nomeado como o 4º trimestre da gestação, ou extero gestação. Isso porque, apesar da grande mudança que vem com o seu nascimento, a transição da vida intra para extra uterina é um continuum em que mãe, pai e bebê se conhecem, se reconhecem. A história já começou no momento da concepção, ou mesmo antes dela, no planejamento desse novo ser. Nossos filhos não nascem com as páginas em branco, eles já vêm com alguns jeitinhos, decorrentes da história antes do parto, da expectativa do casal, da sua genética e tantos outros aspectos desconhecidos.

E como é o seu bebê antes de ele nascer? Quais as experiências e sensações que ele vivencia enquanto está na sua barriga? Do que ele já gosta? Música? Movimento? De suas conversas? Ele se mexe muito? Ou é mais tranquilo, gosta do silêncio, da meditação? Algumas sensações já são por ele conhecidas: o escurinho, o calor, o contato. Os movimentos dele restritos ao útero, esse músculo que o deixa aconchegado, apertadinho, protegido. Quando os bebês nascem, muitos querem continuar a viver essas sensações. O calor, o aconchego, o movimento.

Nasceu. Como você percebe o SEU bebê? É apegado, gosta de contato e quer colo? Então vamos dar colo para que ele sinta em você essa segurança. Existem carregadores de bebês, ou slings que, se colocados de maneira segura para o bebê, dada a sua praticidade e conforto também para a mãe, auxiliam nesse aconchego. A grande maioria dos bebês prefere ficar contido, à semelhança de como estavam no útero. Os “charutinhos” ou swaddles, desde que respeitadas as condições de temperatura externa e gosto do bebê, também dão conforto a ele. Os banhos de baldes, que muito ajudam em situações de agitação e cólica, mimetizam o que ele vivenciou por nove meses, o constante contato com a água morna, a contenção. Com quais sons ele está acostumado? O do seu coração? O ritmo de sua respiração? Então vamos simular esses sons quando ele estiver agitado. Os chamados “ruídos brancos”, como “shhhhhh”, o barulho da água/chuveiro/secador e coifa são semelhantes aos ruídos com os quais ele já está familiarizado. É um bebê mais quietinho, que gosta de ficar no sossego, tranquilo? Então vamos entender os sinais, que podem ser sutis, para que as suas necessidades sejam sempre atendidas.

Quando chora, pergunte: por que chora? O choro do bebê é sua única forma de comunicação. Como ele, o bebê diz: quero colo, contato, movimento, estou com sede, fome, frio, calor, algumas vezes dor. A intenção não é fazer com que ele se cale, mas entender a causa desse choro. E que bom que choram! De outra forma, não teriam suas necessidades satisfeitas. E lembre-se: nem todo choro é cólica.

E para você? Itens que devem estar facilmente disponíveis: água, muita água. Para manter uma amamentação saudável, a hidratação é imprescindível. Comidinhas, frutas frescas, tudo para te manter alimentada. Amamentar e cuidar exige muitas calorias. Quando o bebê dormir, durma! Não importa se de dia ou de noite, bebês tem um relógio biológico muito diferente do nosso, logo aproveite cada minuto de descanso dele para repousar. Aos poucos os seus ritmos se ajustarão. Mas, nas primeiras semanas, desligue o relógio cronológico, o que importa é o biológico dele, apenas.

Entregue-se. Mergulhe nas sensações que a maternidade te traz. É muito comum mães se sentirem sozinhas nessa fase. Então não hesite: peça ajuda! Conviva com mães que também têm bebês pequenos. Apesar de você estar escrevendo a sua história que é única, não subestime a experiência de sua mãe e de outras mães. E para maternar não existem regras ou cartilhas, e sim sugestões, que podem ou não fazer sentido para você, podem ou não ser de agrado do seu bebê, logo vamos arriscar e ouvir o nosso coração e o do nosso filho.

E não hesite em pedir a ajuda do pediatra quando achar necessário, para que se sinta segura, para que ele te ajude a entender os sinais do bebê, os sinais de conforto, às vezes de desconforto e se empodere da função de maternar.

Junto com o bebê nasce uma mãe, um pai, uma família. A maternidade é transformação, revolução. Nasce uma nova mulher, que carrega toda a experiência da vida anterior, mas que sem dúvida nunca mais será a mesma.

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Relatora:
Dra. Renata Cavalcante Kuhn dos Santos
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

Publicado em 8/05/2015.
photo credit: barbiecpt0 | pixabay.com

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