Combate à exploração sexual e tráfico de crianças: uma luta global urgente

Combate à exploração sexual e tráfico de crianças: uma luta global urgente

A exploração sexual e o tráfico de crianças representam uma das violações mais graves dos direitos humanos em todo o mundo. Esses crimes, que transcendem fronteiras e culturas, vitimam milhões de crianças e adolescentes, deixando sequelas físicas e psicológicas profundas. Datas como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (18 de maio), o Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (30 de julho) e o Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças (hoje, 23 de setembro) buscam mobilizar a sociedade e os governos para essa causa urgente.

A dimensão do problema

Estudos recentes revelam números alarmantes. Um relatório das Nações Unidas de 2024 indicou que cerca de 300 milhões de crianças foram afetadas pela exploração sexual e abuso infantil online apenas nos últimos 12 meses.

Esse valor, no entanto, pode ser ainda maior devido à subnotificação crônica desses casos.

No Brasil, dados do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024) mostram que 61,6% das vítimas de estupro e estupro de vulnerável têm até 13 anos, com meninas negras sendo as mais vulneráveis.

O tráfico de pessoas, intimamente ligado à exploração sexual, também apresenta dados chocantes. Segundo a ONU, o tráfico movimenta aproximadamente US$ 32 bilhões anualmente e vitima cerca de 2,5 milhões de pessoas por ano.

Crianças, adolescentes e mulheres representaram 75% das vítimas registradas no Disque 100 brasileiro entre 2020 e 2021.

Exemplos recentes e iniciativas de combate

Em 2025, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou ações em Caruaru (PE), abordando veículos e distribuindo material educativo sobre exploração sexual infantil.

A PRF também desenvolve o Projeto Mapear, que identificou 17.687 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais entre 2023 e 2024.

O vídeo “Adultização”, lançado recentemente, lança uma luz sobre a exploração e sexualização de crianças no ambiente virtual.

Desafios persistentes e caminhos futuros

A subnotificação permanece um obstáculo significativo. Estima-se que apenas 7,5% dos casos de exploração sexual infantil no Brasil sejam denunciados, o que significa que os números reais são muito superiores aos registros oficiais.

Fatores culturais, como a naturalização da violência e a culpabilização das vítimas, contribuem para essa invisibilidade.

A internet tornou-se um terreno fértil para esses crimes. Em 2024, a SaferNet detectou 2,65 milhões de usuários em grupos e canais do Telegram contendo imagens de abuso e exploração sexual infantil, destacando a necessidade urgente de políticas mais efetivas para o ambiente digital.

Para enfrentar esses desafios, é essencial:

– Fortalecer redes de proteção com ações coordenadas e orçamento público adequado.

– Capacitar profissionais da educação, saúde e assistência social para identificar e reportar casos.

– Combater a cultura de impunidade, com legislação rigorosa e aplicação efetiva das leis.

– Promover campanhas de conscientização que envolvam toda a sociedade, incluindo família, escolas, empresas e comunidades.

Comentários finais

A exploração sexual e o tráfico de crianças são crimes complexos que demandam respostas multifacetadas e cooperação internacional.

Datas comemorativas são importantes para manter o tema em evidência, mas é necessário que ações concretas e contínuas sejam realizadas durante todo o ano.

O envolvimento de todos os setores da sociedade é crucial para proteger as gerações futuras e garantir que toda criança tenha o direito a um desenvolvimento seguro e livre de violência.

Denúncias podem ser feitas através do Disque 100, um canal disponível 24 horas para reportar casos suspeitos.

Relator:

Theo Lerner
Presidente do Departamento Científico de Ginecologia e Obstetrícia da SPSP
Membro do Núcleo de Estudos da Violência contra a Criança e o Adolescente  da SPSP