Como um osso quebrado cura?

Relatores:
Dr. José Antonio Pinto
Professor Adjunto – Chefe de Clínica da Disciplina de Ortopedia Pediátrica do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM e Presidente do Departamento Científico de Ortopedia da SPSP.

Dr. Rui Maciel Maciel Godoy Jr.
Mestre e Doutor em Ortopedia pela Fac. de Medicina da USP, Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica e Vice-Presidente do Depto. Científico de Ortopedia da SPSP.

Dr. Eiffel Tsuioshi Dobashi
Doutor da em Ortopedia Pediátrica do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP/EPM e Secretário do Departamento Científico de Ortopedia da SPSP.

     
O osso é um dos poucos órgãos no ser humano que regenera a estrutura original, semelhante ao fígado e  diferente de outros tecidos que  quando lesados são substituídos por fibrose. 

Normalmente recebemos impactos contra a estrutura óssea, que absorve a energia devido as suas  propriedades físicas de flexibilidade e elasticidade. Algumas vezes esta energia ultrapassa o fator de resistência do osso e ocorre a fratura. Neste momento vasos sanguíneos ósseos e dos tecidos adjacentes (músculos, tendões e até artérias e veias  que passam na proximidade) rompem-se causando o hematoma fraturário.

A parada do sangramento é rápida, através dos fatores de coagulação e constrição dos vasos sanguíneos, para evitar que o indivíduo morra. Esta parada somente não ocorre quando lesamos grandes vasos sanguíneos.

Várias substâncias originárias deste hematoma e da rotura dos tecidos circunvizinhos desencadeiam  um processo de transformação e estimulam a migração celular com a finalidade de reparar os tecidos lesados.  Três tipos de Células Ósseas irão participar diretamente da  regeneração.  As células maiores e cheias de núcleos são chamadas de  osteoclastos. Elas são responsáveis pela reabsorção do tecido ósseo destruído pelo trauma.  Os osteoblastos são menores e contem um só núcleo. São oriundos da transformação de Células Vasculares,  do  Periósteo (Tecido que circunda e protege o osso), do endósteo e da  própria estrutura óssea.  Também dentro do osso, existem pequenas  lacunas que contem uma célula chamada osteócito.  Esta célula fica em estado latente e agindo como sensores de pressão.  Quando ocorre a fratura, rompem as lacunas e  o Osteócito pode transforma-se em Osteoblasto auxiliando na reparação do tecido lesado.  Algumas vezes os osteócitos morrem caracterizando trabéculas de ossos necróticos.

Após a liberação das substâncias (mediadores químicos) inicia-se a Fase Inflamatória. Ela dura em torno de 3-4 dias. No local, observa-se inchaço, dor, calor e rubor.  Esta fase é caracterizada por uma alta atividade celular, que visa retirar o tecido morto e começar a construir um molde cartilaginoso que será o arcabouço do novo osso unindo os fragmentos proximais e distais do osso.

A reconstituição do osso irá ocorrer principalmente a partir de duas regiões  ósseas: o Periósteo e o Endósteo.

O periósteo é uma membrana muito vascularizada que envolve por completo os ossos, enquanto o endósteo é uma camada mais fina que reveste o osso internamente.

Tanto o periósteo quanto o endósteo têm capacidade de produzir osteoblastos, células que darão origem ao tecido ósseo. Um ou dois dias depois da fratura, as células geradas pelo periósteo e o endósteo começam a se multiplicar e invadir o interior e a superfície do coágulo.

No transcorrer de  2 semanas, o periósteo irá  construir um tecido  parcialmente mineralizado envolvendo as extremidades da fratura (calo periostal). Os osteoblastos deste envoltório  serão os responsáveis pela deposição das trabéculas ósseas com depósito mineral (Sais de Hidroxiapatita). Na parte interna do osso, entre as extremidades da fratura, irá se formar um calo de tecido fibroso e cartilaginoso, que devido sua consistência de borracha irá  definir esta fase da consolidação como Calo Mole.

O Calo periostal é muito importante, porque funciona como uma capa dura que segura os fragmentos ósseos para que ocorra uma maior estabilidade.  Quanto menor o movimento entre os fragmentos, melhor será a qualidade do calo ósseo que irá se formar.

Na sequência das próximas semanas, o calo formado receberá uma grande quantidade de trabéculas ósseas construídas pelos osteoblastos e moldadas pelos osteoclastos aumentando a rigidez da estrutura  até retornar a consistência original. Esta fase é chamada de Calo Duro.     Neste momento, o osso neoformado  está apto a receber carga, entretanto seu coeficiente de flexibilidade e resistência ainda não retornou ao normal. Ainda existe o risco de uma refratura.

Nas próximas semanas e meses  irá ocorrer a Remodelação. Esta fase final é a mais duradoura. O osso vai gradativamente retornando ao seu formato inicial e as suas características físicas. Esta etapa final da regeneração óssea começa a partir da sexta semana. Cabe aos osteoclastos remodelar a superfície externa do osso para reduzir o tamanho do calo e conferir um formato mais próximo do normal. A completa remodelagem óssea pode levar anos.

 

Fonte: Arquivo da Disciplina de Ortopedia Pediátrica da EPM/UNIFESP

Figura 1: Fratura de Clavícula, formação do calo ósseo com periósteo envolvendo a região lesada.
 

Fonte: Arquivo da Disciplina de Ortopedia Pediátrica da EPM/UNIFESP

Figura 2: Deformidade em arqueamento causada pelas microfraturas sem mostrar no RX a ruptura da parede do osso, no outro osso o trauma foi suficiente para destruir a parede do osso.
Texto publicado pela SPSP em 06/09/2011