Cuidados com o Recém-Nascido Prematuro é Tema de Evento Promovido pela SPSP

SPSP – Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 09/04/2019

No dia 30 de março, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) promoveu o Café da Manhã com o Professor – Cuidados com o Recém-Nascido Prematuro: Minimizando os Riscos. Organizado pela Diretoria de Cursos e Eventos e Departamento Científico de Neonatologia da SPSP, o evento encerrou a campanha “Março Lilás – Atenção ao Cuidado do Bebê Prematuro” e teve por objetivo atualizar os neonatologistas e pediatras na abordagem integral dos recém-nascidos prematuros, especialmente os abaixo de 30 semanas de idade gestacional.

O encontro foi coordenado pela vice-presidente da SPSP, Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck, 0400presidente do Departamento de Neonatologia da SPSP e, além dos palestrantes, contou com a presença da médica Ana Lucia Goulart, coordenadora do Ambulatório de Prematuros da Disciplina de Pediatria Neonatal da Escola Paulista de Medicina/Unifesp. “Este evento de hoje, que encerra a campanha ‘Março Lilás’, faz parte das ações da SPSP em melhorar o cuidado ao recém-nascido prematuro, com o intuito de diminuir a mortalidade e também as morbidades, especialmente nos bebês cada vez mais prematuros”, ressaltou Lilian durante a abertura do evento.

Na sequência, a neonatologista enfatizou que a prematuridade é um problema de saúde pública, uma vez que é a principal causa de mortalidade e morbidade neonatal. Lilian esclareceu que as principais complicações da prematuridade são a síndrome do desconforto respiratório, sepse, hemorragia intraventricular e enterocolite necrosante. “Essas complicações geram um ônus elevado para a família e para o sistema de saúde, seja privado ou público. E lembrar que uma parcela considerável de partos prematuros ainda é por conta de iatrogenia, podendo piorar a evolução dessas crianças sem necessidade”, apontou.

 A especialista ressaltou a importância de se identificar as causas da prematuridade, uma vez que ela pode trazer sequelas tardias, como restrição de crescimento, disfunções auditivas e visuais, doença pulmonar crônica, paralisia cerebral, além de outras alterações cognitivas e psiquiátricas. Segundo a pediatra, para se aumentar a sobrevida e também reduzir a morbidade dos RNs, é fundamental que haja protocolos muito bem estabelecidos nas unidades neonatais. “Esse protocolo, que denominamos de manipulação mínima, tem por objetivo principal, ampliar o uso do corticosteroide antenatal – entre 24 e 34 semanas de idade gestacional.” Outro aspecto importante ressaltado pela médica foi a administração do sulfato de magnésio no período antenatal. “Existem vários trabalhos na literatura demonstrando que há uma ação de neuroproteção fetal do sulfato de magnésio”, completou.

Como conclusões, Lilian ressaltou a importância do treinamento e educação de toda a equipe multiprofissional, incluindo a equipe médica, de enfermagem, de fisioterapia, de fonoterapia, de nutrição e todos os que trabalham nos cuidados dos RNs. “Além disso, é primordial haver um protocolo gerenciado de implantação de medidas de boas práticas aos cuidados dos recémnascidos de muito baixo peso, sem esquecer a necessidade de indicadores de qualidade para verificar se realmente estamos conseguindo obter os resultados esperados desse protocolo.”

Ventilação pulmonar gentil e vírus respiratórios em unidades neonatais

A seguir, o neonatologista Celso Moura Rebello, membro do Departamento de Neonatologia da SPSP, abordou o tema ventilação pulmonar gentil, no qual afirmou que o aspecto mais importante para o sucesso da reanimação em prematuros é a ventilação adequada. “A ventilação pulmonar é o procedimento mais simples, importante e efetivo na reanimação do RN em sala de parto”, disse.

De acordo com Rebello, é necessário melhorar a assistência ventilatória, não apenas preocupando-se com a displasia broncopulmonar, mas também com a evolução neurológica dos bebês. O médico mencionou, ainda, os efeitos dos diferentes equipamentos utilizados na sala de parto (balão autoinflável, peça-T, ventilador, máscara facial, prong binasal e máscara laríngea), visando melhorar a assistência ventilatória com o mínimo de agressão possível, e também o uso de PEEP, as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria e ILCOR, o uso do CPAP como estratégia ventilatória inicial e a ventilação na UTI neonatal,

Por fim, o especialista ressaltou que o ventilador mecânico manual (peça-T) é atualmente considerado o melhor equipamento para ventilação manual; o uso de PEEP resulta em melhora da capacidade residual funcional após o nascimento; o balão autoinflável com válvula de PEEP não reproduz os resultados obtidos com o uso de peça-T; e que o uso de CPAP na sala de parto como estratégia ventilatória inicial reduz a incidência de displasia broncopulmonar e a necessidade de ventilação mecânica e de tratamento com surfactante, sem aumento na incidência de pneumotórax.

O último palestrante foi o pediatra e infectologista Daniel Jarovsky, secretário do Departamento de Imunizações da SPSP, que apontou como formas clínicas das infecções por vírus respiratórios em neonatologia a infecção clínica mimetizando sepse, a infecção clínica com deterioração respiratória, o aumento de risco de infecção grave relacionado com a condição neonatal, além de surtos em unidades neonatais. “Em relação à sepse cultura-negativa, os sinais clínicos de infecção associados a vírus respiratório entre RNs em UTI neonatal são pouco conhecidos; RNs prematuros podem não apresentar os sintomas clássicos”, afirmou, enfatizando que houve um aumento na qualidade do diagnóstico com o advento das técnicas de biologia molecular.

O médico comentou que há basicamente três opções na prática diária para o diagnóstico destas infecções: os testes imunocromatográficos, que têm como vantagem a rapidez, porém possuem uma sensibilidade muito limitada; a imunofluorescência direta, que é um teste um pouco mais complexo e que depende de uma tecnologia mais avançada, entretanto possui uma sensibilidade maior; e os testes moleculares, que é o que tem se utilizado mais.

A respeito do tratamento, o pediatra esclareceu que para a infecção respiratória por VSR utiliza-se atualmente o palivizumabe. “Como novidade para um futuro não muito longe, há o MEDI8897, um anticorpo monoclonal que é bastante superior ao palivizumabe e que atua no sítio antigênico, o que lhe confere uma potência dez vezes maior em relação ao palivizumabe, e tem como grande vantagem possuir uma meia-vida de cerca de 150 dias”, destacou, concluindo que outras opções de tratamento incluem os inibidores de fusão, os inibidores de polimerase e as vacinas.

Ao final das palestras, foi realizado um colóquio entre a plateia e os palestrantes.