Um mundo interativo, conectado 24 horas por dia, e crianças com acesso a um mundo de informações. Este é o cenário no qual, cada vez mais, as crianças têm dificuldade em sentar em uma sala e assistir à uma aula. Seja pela rotina geralmente extensa, seja pela falta de controle de pais e professores, o diagnóstico de hiperatividade e déficit de atenção é cada vez mais comum.
O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) realmente existe e pode acometer não apenas crianças, mas também adolescentes e adultos, com sintomas como agitação, dificuldade de atenção e impulsividade excessivas. Mas como diferenciar o transtorno da agitação normal da idade e ambiente em que a criança vive?
“Na prática diária, percebemos que há muita desinformação acerca do TDAH, facilitando suspeitas e até mesmo diagnósticos equivocados, que incidem sobre crianças que são apenas desatentas”, relata o Dr. Fausto Flor Carvalho, presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Pais e professores de olho
O papel da escola na identificação do problema é bastante questionado e requer cuidados. Antes de concluir que se trata de TDAH e encaminhar o aluno a psicólogo ou neurologista, a escola pode chamar os pais e conversar sobre a possibilidade de se tratar de um transtorno de aprendizado ou ajustar determinados comportamentos que podem ocorrer no desenvolvimento da criança. Mas o diagnóstico e, se necessário, o encaminhamento a um especialista, só devem ser realizados pelo pediatra, explica o Dr. Marun David Cury, membro da Diretoria de Defesa Profissional da SPSP. “É da abrangência do pediatra confirmar ou não uma possível dificuldade de aprendizagem, déficit ou outro distúrbio, e isso será feito a partir da análise de todo o histórico do pequeno paciente, desde o pré-natal.” Em muitos casos, revela o especialista, pode de tratar apenas de um problema de visão ou de audição, que dificultam a compreensão e acompanhamento adequado da aula.
Por isso, explica o Dr. Saul Cypel, presidente do Departamento Científico de Neurologia da SPSP, é importante que se avalie a criança como um todo, inclusive como têm sido estabelecidas as suas relações sociais, principalmente dentro do ambiente familiar. “Muitas das alterações de comportamento têm origem na inadequação de relacionamento dos pais com os filhos, por exemplo, a falta de incentivo em lidar com regras e limites, ou o excesso de cuidados familiares ou outras pessoas que participem da casa, que não favorece a força de agir por conta própria, não promovendo a sua autonomia”, explica.
Tratamento
A aliança entre os pais, a escola e o pediatra é o primeiro passo para ajudar uma criança com problemas de comportamento ou dificuldade de aprendizado. Há casos em que a psicoterapia, ou terapia familiar, podem ser indicadas. O medicamento poderá entrar em cena complementando as opções anteriores. Nestes casos específicos, há medicamentos úteis, mas que devem ser usados criteriosamente, e sob rigorosa prescrição médica. “Há trabalhos em que o uso indiscriminado ou abusivo de medicação na infância pode resultar em adolescentes mais suscetíveis a quadros depressivos”, acrescenta dr. Fausto.
O especialista lembra, ainda, que todo medicamento tem contraindicações e efeitos colaterais. Mesmo quando indicados, podem trazer reações indesejadas, que devem ser monitoradas pelo pediatra ou, se for o caso, por um neurologista ou psiquiatra.
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Texto produzido pela assessoria de imprensa da SPSP.
Publicado em 22/04/2014.
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