Dia Internacional da Amizade

Dia Internacional da Amizade

 “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” (Vinícius de Moraes)

Para lembrar o Dia Internacional da Amizade, que é comemorado em 30 de julho, tenho que falar sobre como é a amizade para a criança: faz amigos com facilidade, com naturalidade. Às vezes, basta ter um brinquedo qualquer para iniciar uma comunicação, estabelecer uma troca relacional.  Nunca se viram antes, mas quando os pais perguntam quem é esse seu coleguinha, a resposta vem logo: “é meu amigo”. Amigos para o agora. 

Mas é na infância que muitos dos “Amigos para sempre” são angariados. Importante ressaltar que na grande maioria das vezes os amigos das crianças estão relacionados ao cotidiano delas, ou seja, são amigos da escola, da vizinhança, de bairros próximos, de clubes, da igreja, etc. Isso explica porque as brincadeiras são um fator fundamental para o estabelecimento desses vínculos tão fundantes da personalidade e para a maturação do desenvolvimento psicoemocional das crianças e adolescentes. A brincadeira é a forma de apresentar o mundo e a realidade às crianças. Fica patente que as amizades entre as crianças precisam de uma certa “aproximação” para se desenvolverem – brincar juntos, fazerem coisas juntos.  

O conceito de amizade vai se alterando ao longo do processo de desenvolvimento, partindo de uma ideia simplista e egocêntrica e indo até um ideal de empatia e companheirismo. A importância social das amizades é inequívoca. Sofre transformações que acompanham as mudanças sociais, culturais, econômicas, ambientais. É impactada pelos avanços tecnológicos e ganha características próprias ao longo do tempo. A amizade desempenha um papel muito importante na vida das pessoas. Esses laços de afeto nos dão conforto nos momentos tristes, e amplificam as nossas alegrias porque as dividimos.

A amizade permite que a criança desenvolva o autoconhecimento ao interagir com crianças da mesma idade, na troca de experiências e sentimentos. Nessa interação ela compreenderá melhor o que lhe agrada, do que gosta, quais brincadeiras e atividades a divertem e que tipo de pessoas ela quer manter proximidade ao longo de sua vida. Esse interagir permite, também, que desenvolva habilidades interpessoais essenciais para a vida em coletividade, aprendendo como deve se comunicar e resolver conflitos, superar adversidades, então, começa a ganhar noção de limites, da necessidade de entender a vez do outro, noção de partilha e passa a lidar com a competitividade, com as diferenças de opiniões, percebendo o conceito de lealdade e firmando confiança. Naturalmente, vai desenvolvendo o senso de comunidade, de pertencimento a algum grupo. É nesse espaço que se cultiva e se aprende a empatia, o se colocar no lugar do outro, a sentir a dor do outro. Esse espaço proporciona o aflorar da criatividade e o soltar da imaginação. Lugar onde se ganha autoestima. Na adolescência, a amizade ganha novas camadas, mais densidade e estabilidade, favorecendo um maior apoio emocional, o coleguismo, conversas mais amplas e profundas.

Amigo é alguém cuja simples presença traz alegria independentemente do que se faça ou diga, por isso Rubem Alves diz que: “Sabemos que estamos com um amigo quando o silêncio é confortável, quando não precisamos fingir estar bem e quando estar vulnerável não é ameaçador”.

Essa importância foi “cantada” de forma magistral pela nossa inesquecível Elis Regina, interpretando a composição de Tavito e Zé Rodrix – Uma casa no campo: “Eu quero uma casa no campo/ Do tamanho ideal, pau a pique e sapê/Onde eu possa plantar meus amigos/ Meus discos e livros e nada mais.” 

Seguindo o mesmo entendimento diz Bem Sira, no livro Sabedoria: “Um amigo fiel é um abrigo seguro; aquele que o encontrar, terá encontrado um tesouro”.

 

Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Foto: alebloshka I depositphotos.com