O Dia Mundial da Discriminação Zero, celebrado em 1º de março, foi instituído pelo UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) em 2014. A data tem o objetivo de promover igualdade, inclusão e respeito aos direitos humanos, independentemente de gênero, raça, orientação sexual, condição de saúde ou qualquer outra característica.
O símbolo da campanha é uma borboleta, representando transformação e liberdade. A iniciativa incentiva indivíduos, comunidades e governos a adotarem práticas mais inclusivas e a combaterem qualquer tipo de discriminação.
Que a borboleta não voe para longe do alcance das nossas vistas.
A questão da discriminação ganha ainda mais relevância no contexto geopolítico atual, onde há um crescimento de movimentos nacionalistas, políticas identitárias excludentes e certo retrocesso no ideal do multiculturalismo que, nas últimas décadas, foi um modelo de coexistência pacífica, valorizando a diversidade e garantindo espaço para diferentes culturas, religiões e modos de vida dentro das sociedades.
No entanto, muitos governos estão se afastando desse ideário, adotando posturas mais fechadas, pautadas em nacionalismo, protecionismo e discursos de “identidade nacional”, que frequentemente excluem minorias e imigrantes.
Podemos listar algumas razões.
O aumento dos fluxos migratórios, impulsionados por guerras, crises climáticas e desigualdades econômicas, gerou reações adversas em muitos países. Em vez de políticas de acolhimento, há um endurecimento de fronteiras e o crescimento de retóricas xenófobas. Cresce o medo do “outro”, que alimenta o discurso de alguns líderes populistas, caracterizado pela óptica do “eu contra eles”, que apresenta as minorias como ameaça à estabilidade econômica, cultural e social. É o famoso “bode expiatório”.
Em algumas partes do mundo, há um claro enfraquecimento de instituições que protegiam direitos fundamentais. Leis que garantiam igualdade de gênero, proteção a refugiados e combate ao racismo estão sendo revogadas ou enfraquecidas.
A internet potencializou bolhas ideológicas e discursos de ódio, dificultando o diálogo e promovendo a polarização social. Movimentos extremistas encontram terreno fértil para disseminar preconceitos e teorias da conspiração, que deslegitimam a convivência multicultural.
O fim do multiculturalismo na política não significa necessariamente que as sociedades deixarão de ser diversas, mas pode indicar um desafio maior na promoção da inclusão e no combate à discriminação. Isso torna datas como o Dia Mundial da Discriminação Zero ainda mais importantes, pois reforçam a necessidade de resistência e de ações concretas para garantir que direitos fundamentais não sejam desmontados.
Fernando Pessoa (sob o heterônimo Bernardo Soares) escreveu em ‘Metamorfose’: “Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre”. A vida é movimento e transformação, por certo. É um processo contínuo que demanda sabedoria e vigilância. A lagarta gera a borboleta, que precisa de espaço para voar, apesar das barreiras que nos cercam.
Saiba mais:
– O Dia Mundial da Discriminação Zero, celebrado em 1º de março, foi instituído pelo UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS)
Fonte:
Fonte: UNAIDS Brasil https://unaids.org.br › zero-discriminacao
– Fernando Pessoa (sob o heterônimo Bernardo de Campos) escreveu em ‘Metamorfose’: PESSOA, F. Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. Vol. II. Mem Martins: Europa-América, 1986.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP