Infecção do trato urinário na infância

A infecção do trato urinário (ITU) constitui uma das infecções mais comuns em Pediatria, podendo sinalizar a presença de alteração congênita estrutural em 30-50% dos casos, principalmente o refluxo vesicoureteral (RVU). Essa situação indica a necessidade de um fluxograma de investigação laboratorial e de imagem específicos, além do diagnóstico fiel por metodologia adequada de coleta da urocultura. Em neonatos e lactentes, os quais apresentam maior suscetibilidade para formação de cicatrizes renais, a ITU pode apresentar sintomatologia inespecífica, constituindo diagnóstico diferencial obrigatório de quadros de febre sem sinais localizatórios.

O método preferencial de coleta da urocultura em crianças com controle esfincteriano é o jato médio. A coleta por saco coletor pode responder por até 85% de falso-positivos, desta forma, em lactentes e/ou na ausência de controle esfincteriano, há a necessidade de punção supra-púbica e/ou cateterização uretral. Disfunções miccionais, freqüentemente não valorizadas, podem determinar recorrência de episódios de ITU. As crianças com anomalias estruturais e/ou funcionais podem evoluir com perda progressiva da função renal, hipertensão arterial, proteinúria, insuficiência renal crônica e necessidade de diálise e transplante renal.

Tratamento
O tratamento da ITU envolve a necessidade de esquemas antimicrobianos completos e específicos, constituindo retardo terapêutico e tratamento com dose-única ou de curta duração, inadequados. A profilaxia antimicrobiana está indicada nos casos de anomalias estruturais (ex. RVU), nos pacientes com predisposição para recorrência e alto risco de desenvolvimento de cicatrizes renais. O tempo de profilaxia é variável e individual, podendo durar anos, levando-se em conta a patologia de base, a presença de cicatriz pielonefrítica e sua progressão, o padrão miccional, entre outros aspectos.

Na presença de disfunção miccional, reeducação miccional, ingestão hídrica adequada, tratamento da obstipação e, se necessário, medicamentos específicos, são fundamentais. A utilização de probióticos e sucos de cramberry permanecem controversos na profilaxia de novos surtos de ITU. Aspectos relacionados à vacinação de populações específicas constituem objeto de pesquisa experimental e clínica.

Relator: Dr. Olberes Vitor Braga de Andrade
Presidente do Departamento de Nefrologia da SPSP – gestão 2007-2009;
Professor Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP.

Matéria publicada em Pediatra Informe-se Boletim da SPSP Ano XXIII – No 135 – setembro/outubro 2007

Assessoria de Imprensa – SPSP