Relatora: Dra. Regina Maria C. Gikas
Membro do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SPSP e Pediatra do Programa da Saúde da Família do Jardim Ângela, São Paulo/SP.
A necessidade de somar esforços de otorrinolaringologistas, pediatras, cirurgiões infantis e endoscopistas, em caráter mundial, através do estudo multicêntrico dos casos de engasgo e sufocação, culminou na implantação de notificação destes eventos, enriquecendo os dados epidemiológicos para traçar estratégias de intervenção mais eficazes: a rede SUSY (www.susysafe.org), já implantada em vários países.
Evento realizado em São Paulo, em setembro de 2012, promovido pela Embaixada da Itália no Brasil – Prevenção de Acidentes de Asfixia em Crianças: Um Papel Fundamental a Desempenhar para a Comunidade Latino-Americana – contou com a participação de vários especialistas.
Segundo a otorrinolaringologista Dayse Manrinque, a anatomia e fisiologia do desenvolvimento da mastigação em crianças mostra que a aquisição da habilidade de mastigar e deglutir é lenta e se completa por volta dos quatro anos, não devendo ser apressada em hipótese alguma, apesar do “orgulho” dos pais em oferecer alimentos sólidos precocemente na alimentação do bebê. Lentamente, a criança vai adquirindo controle e sensibilidade na abertura da boca e treino na mastigação.
Somente após o nascimento dos segundos molares, ela estará pronta para ingerir alimentos sólidos sem estarem devidamente fracionados ou cozidos. A boca do lactente tem uma pequena distância entre os dentes incisivos e a base da língua, que aumenta significativamente com o desenvolvimento da face. Juntamente com a frequência respiratória mais alta, essa característica anatômica faz com que facilmente alimentos lisos ou escorregadios deslizem para a laringe, ocasionando broncoaspiração ou asfixia. Portanto, pelos riscos de engasgos, asfixia ou sufocação de consequências graves, a supervisão da alimentação da criança deve ser ativa e constante, até quatro anos de idade.
O endoscopista argentino, Hugo Rodriguez, sugeriu um “medidor” muito barato para selecionar os objetos que não podem ser oferecidos a crianças. É o “rolinho” de papelão interno do rolo de papel higiênico, que possui medidas muito próximas do cilindro de teste para medir pequenas partes. Ele pode ser usado por pais, professores ou cuidadores, para verificar o risco de ingestão ou aspiração de brinquedos utilizados pelas crianças. O brinquedo ou objeto que entrar facilmente no cilindro não deve ser oferecido à criança.
Atualmente, um risco muito elevado de ingestão de corpos estranhos está relacionado a brinquedos magnéticos e baterias alcalinas, com um enorme potencial de morbi-mortalidade, principalmente quando da ingestão de mais de um elemento imantado, pois eles se acoplam, podendo causar vólvulos, fístulas e/ou perfurações intestinais.
As baterias podem levar a perfurações esofágicas em região mediastinal, muitas vezes com consequências fatais. A capacitação dos pediatras na epidemiologia, quadro clínico e prevenção da ingestão, engasgo e aspiração de corpos estranhos é fundamental em seu diagnóstico precoce.
Texto original publicado no Boletim “Pediatra Informe-se” Ano XXVIII • Número 166 • Novembro/Dezembro de 2012