Ler é travessia

Ler é travessia

A leitura de um livro é, antes de tudo, uma permissão. Uma dádiva que o autor oferece, abrindo uma passagem para que você atravesse o limiar de seu mundo. Mas é também um convite e, como todo convite, pede resposta. A porta está entreaberta, mas é preciso querer entrar. Entram apenas os dispostos.

A imagem da porta é profundamente sugestiva para pensar o livro. Diferentemente da janela, que permite espiar o interior sem se comprometer, mantendo o observador do lado de fora, a porta exige gesto e decisão. É preciso tocar a maçaneta, empurrar, atravessar o umbral. Há esforço. Há escolha. Assim é a leitura: um movimento ativo, uma travessia. Não basta ver; é preciso entrar.

E ao entrar, o leitor é acolhido por um território novo – um espaço antes interditado, onde cada frase abre caminhos, cada página revela paisagens inéditas. O livro é casa e labirinto, abrigo e aventura. Pode ser tranquilo e repousante, mas também estranho e desafiador. Em toda leitura há sempre um pouco de risco e de deslumbramento.

Talvez, mais que uma porta, o livro seja um portal. Ao abri-lo, não apenas se acessa um outro ambiente, mas um outro mundo. A leitura não amplia apenas o horizonte – ela o desloca. Revela novas formas de ver, de sentir, de compreender. O que era velho, se renova. O que parecia simples, ganha profundidade. O que antes era enigma, se ilumina. Ler é reaprender a ver o mundo – e, muitas vezes, a si mesmo.

Cada autor, ao publicar seu livro, concede antecipadamente essa permissão silenciosa: entre, veja, percorra, descubra.

Cabe a nós aceitarmos o convite, girar a maçaneta e atravessar o portal.

Celebremos, portanto, o Dia Nacional do Livro da forma mais genuína e viva possível: lendo. Porque cada leitura é um ato de travessia – e cada travessia, um novo começo.

 

Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP