Mais perto, menos longe: a educação sem distância

Mais perto, menos longe: a educação sem distância

A tão necessária paciência esperada dos pais neste período de isolamento social tem sido muitas vezes esquecida ou pouco exercida. O excesso de informações, o medo da doença, a ansiedade sobre o desconhecido, a falta de poder planejar a viagem de férias ou um simples lazer, a crise econômica decorrente da pandemia têm transmitido às nossas crianças uma pressão gigante.

Como conciliar o trabalho em casa, as tarefas que a escola manda para as crianças e os afazeres domésticos sem perder os cabelos? Que tal transformar, primeiramente, a harmonia do ambiente? Todos os moradores da casa devem sentar para conversar – os grandes e os pequenos – e combinar como tudo vai funcionar. Os horários das tarefas, de ajudar com os afazeres da casa, de fazer silêncio porque os adultos têm um call e assim por diante. É lógico que os momentos de estresse podem acontecer, mas basta voltar a se reunir, rever e acordar tudo de novo.

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A educação a distância (EAD) existe há décadas; no ensino universitário seu uso se expandiu exponencialmente. Com a ampliação do acesso à universidade, a EAD surgiu como a forma mais eficiente e rápida de oferecer uma graduação sem a necessidade de construir mais prédios.

Junto com o crescimento da EAD, o aprimoramento de diversas práticas pedagógicas a distância igualmente evoluiu – hoje é possível fazer simulações realísticas, interatividades em tempo real, fóruns de discussão, avaliações com feed back instantâneo, certificados com blockchain e diversos outros recursos.

E, foi preciso uma quarentena forçada para que a EAD adentrasse nos lares mundiais e passasse a ser utilizada por todos: crianças, jovens e adultos.

Cada escola acabou se adaptando de uma forma, pois tudo aconteceu de modo repentino, não houve tempo para planejar. Por não fazerem parte do dia a dia da administração da escola, a gestão e prevenção de riscos e catástrofes fizeram com que prever um evento como esta pandemia fosse quase impossível.

Com a carga de tarefas chegando para os pais nas primeiras semanas de isolamento e a maioria ainda na fase de adaptação à nova rotina, foi como um atalho e uma receita para o caos. Ou os pais ficaram verdadeiramente revoltados ou com a carga de tarefas, ou com a falta de comunicação da escola.

As tarefas chegam por vários meios – pelo Google Classroom, Zoom e outras plataformas interativas – e conseguiram um acesso maior às crianças, sendo possível “mutar” o microfone e a câmera e combinar entre todos de manter silêncio enquanto estão ocorrendo as chamadas de vídeo e os calls.

É compreensível que muitos pais estejam estressados com a carga de trabalho dos filhos, pois a própria situação de cada um tem sido muito tensa, mas a quarentena não se resume somente a momentos em frente à tela. É preciso ter um equilíbrio e buscar tempo para fazer exercícios em casa, estimulando os pequenos, fazendo-os se desligar dos diversos gadgets. A frequência cardíaca precisa subir e, para isso, é preciso pular, dançar, brincar, se exercitar e criar momentos para diminuir a ansiedade.

É extremamente necessário aproveitar a quarentena para estimular a leitura – pais, crianças, jovens, todos! Viajar pelo mundo da imaginação através de lentes criativas, advindas da percepção do que os pequenos leem é infinitamente melhor do que assistir a um filme pronto.

Segundo Marianne Wolf, em O cérebro no mundo digital: “os estudantes se tornaram cada vez mais impacientes com o tempo exigido para compreender a estrutura de sentenças mais difíceis em textos mais densos e mais avessos ao esforço necessário para ir a fundo em sua análise.”

Os danos que o tempo demasiado em frente às telas causa à retenção da memória e do aprendizado superficial são imensos; por outro lado, é possível treinar nosso cérebro a voltar a fazer leituras concentradas, sem distrações. O cérebro humano é muito plástico e adaptável. As crianças rapidamente aceitam as novas rotinas e as incorporam, se os pais estiverem tranquilos. Ensina-se – principalmente – pelo exemplo.

A EAD é um meio que tem o objetivo e fim de permitir que a escola siga levando o ensino às crianças e jovens durante este período de distanciamento. E o momento atual exige duas grandes habilidades: resignação (submeter-se sem revolta) e resiliência (capacidade de se adaptar às mudanças). E, para isso, há uma grande rede de solidariedade que rapidamente se formou ao redor do mundo para ajudar as pessoas de todas as formas possíveis e imagináveis.

Uma delas é a excelente iniciativa deste blog Pediatra Orienta.

Parabéns à Sociedade de Pediatria de São Paulo!

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Relatora:

Daniela Manole
Mestre em Educação e membro do Conselho Curador da Fundação Sociedade Brasileira de Pediatria
Convidada pela coordenação do Pediatra Orienta para a Voz do Blog