“Mil dias”: a janela de oportunidades da saúde da criança e suas repercussões na vida adulta

O período dos “mil dias” corresponde às 40 semanas de gestação (270 dias) somados aos dois primeiros anos de vida (730 dias), fundamentais para que a criança possa atingir o seu potencial máximo de crescimento e desenvolvimento na vida adulta.

Os “mil dias” constituem verdadeira “janela de oportunidades” que apresentam alto impacto na redução da mortalidade e danos ao crescimento e neuro-desenvolvimento futuro da criança. A boa alimentação da gestante é determinante para evitar as restrições ou excessos do crescimento intrauterino. Estudos recentes sugerem que o crescimento da criança durante os primeiros anos de vida seja fortemente influenciado pelo padrão de crescimento fetal, o que pode determinar uma elevação na probabilidade de ocorrência de desfechos, não só metabólicos, mas também cognitivos desfavoráveis.

Os “mil dias” também são um período em que se pode evitar as denominadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) durante a fase de vida adulta, como a síndrome metabólica, caracterizada por diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial e ainda, alguns tipos de cânceres. Nessa fase, mecanismos epigenéticos, que podem alterar a estrutura do DNA, determinam o aparecimento dessas doenças. Assim, evitar a subnutrição e a obesidade nessa fase da vida é de crucial importância na prevenção das DCNT.

As intervenções propostas no período dos mil dias consistem em assegurar à mulher controle de saúde no pré-natal e nutrição adequada durante a gestação e lactação. Além disso, o leite materno é de fundamental importância para assegurar a boa nutrição da criança.

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A importância do aleitamento materno

O leite materno é o alimento que melhor atende às necessidades nutricionais dos lactentes. Está indicado como alimentação exclusiva até seis meses de vida, associado à alimentação complementar a partir de então, e mantido até os dois anos de idade ou mais, como preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Estudos científicos demonstram que os lactentes em uso do leite materno recebem quantidade de calorias suficiente para crescer, mas não superior à necessária, ganhando peso de forma mais lenta que lactentes alimentados com fórmula infantil. Estudos experimentais demonstram que o excesso de consumo alimentar em lactentes está associado ao maior risco para obesidade e síndrome metabólica na vida adulta.

Para as crianças subnutridas deve-se
— possibilitar a ingestão adequada de vitaminas e minerais através da dieta e, para os mais necessitados, alimentos enriquecidos e suplementos;
— naqueles em risco de subnutrição, assegurar o acesso a alimentos e nutrientes necessários para o crescimento e manutenção da saúde, promover a gestão nutricional das doenças infecciosas e propiciar alimentação terapêutica às crianças severamente subnutridas por déficit de alimentos e/ou doenças associadas.

O acompanhamento pelo pediatra durante a primeira infância e a consulta pediátrica durante o pós-natal são da maior importância para assegurar a correta orientação que permita à criança atingir seu melhor crescimento e desenvolvimento e construir uma vida saudável.

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Relator:
Rubens Feferbaum
Departamento Científico de Nutrição da SPSP.

Publicado em 18/09/2017.

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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