A queixa de movimentação excessiva durante o sono é freqüente no dia-a-dia do pediatra. Frente a uma família com esta queixa, uma das hipóteses a ser considerada é a ocorrência de parassônias, manifestações físicas acometendo sistemas motor e/ou neurovegetativo durante o sono. As principais são os distúrbios do despertar (sonambulismo, terror noturno, despertar confusional) e as parassônias do sono REM (transtorno comportamental do sono REM, pesadelos).
Outra possibilidade é a ocorrência de um distúrbio do movimento, como a síndrome das pernas inquietas.
Os distúrbios do despertar são comuns na infância, apresentam histórico familiar positivo e ocorrem no início do sono. O sonambulismo é caracterizado por episódios de despertar parcial do sono não-REM com comportamentos estereotipados e amnésia ao evento. Ele ocorre no sono delta, com comportamentos de sentar e deambular, e sua duração é de minutos a meia hora, com tendência a ocorrer no terço inicial da noite. A prevalência na população é de 1-15%, com pico entre 4 e 8 anos. Fatores como febre, privação de sono, drogas, atividade física, estresse e apnéia podem aumentar a freqüência dos episódios. O diagnóstico diferencial deve ser feito com crises parciais complexas (crises epilépticas do lobo frontal ou temporal). O tratamento inclui o aconselhamento familiar a respeito do caráter benigno da doença e orientação de medidas de segurança para evitar acidentes.
Quando os episódios são freqüentes, o uso de benzodiazepínicos (clonazepam) por curto período pode ser indicado.
O terror noturno consiste de episódios de despertar parcial do sono não-REM, caracterizados por despertar súbito. A criança em geral grita e senta na cama, com amnésia aos episódios. Há predomínio de manifestações como taquicardia, taquipnéia, sudorese e midríase, com duração de 5 a 20 minutos. A incidência varia de 3 a 6%, com pico entre 4 a 12 anos de idade. Geralmente ocorre no sono delta e tem caráter autolimitado. Fatores como febre e privação de sono também podem aumentar a freqüência dos episódios, e o tratamento é semelhante ao do sonambulismo. Já o despertar confusional consiste de despertares com fala arrastada, amnésia, sudorese e comportamento inadequado, como choro inconsolável. Podem durar minutos até horas e ser desencadeados por drogas, atividade física e privação de sono.
Quanto às parassônias do sono REM, destacam-se os pesadelos, mais freqüentes entre 3 e 6 anos e ocorrendo durante o sono REM, com predomínio na segunda metade da noite. O transtorno comportamental do sono REM é raro na infância e caracteriza-se pela ausência da atonia muscular durante o sono REM, podendo ocorrer comportamentos violentos.
Na síndrome das pernas inquietas a criança freqüentemente apresenta movimentação periódica dos membros durante o sono. Estudos recentes evidenciam que é mais comum em crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.
Relatora: Dra. Rosana Souza Cardoso Alves
Presidente do Departamento de Departamento de Medicina do Sono da Criança e do Adolescente – 2007-2009; Médica Assistente da Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e Médica Assistente do Centro Diagnóstico Fleury, São Paulo, SP.
Matéria publicada em Pediatra Informe-se – Boletim da SPSP Ano XXIII – No 137 – janeiro/fevereiro 2008
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