Nos últimos anos, há mundialmente uma preocupação crescente em relação à saúde mental de crianças e adolescentes. Alguns fatores parecem contribuir para observarmos crianças mais ansiosas e um aumento na incidência de suicídios na adolescência. Certos fatores ligados à contemporaneidade, como o uso das telas, questões ambientais, mudanças na família e a carência de dispositivos de cuidado aos pequenos têm trazido consequências diretas para sua saúde e bem-estar.
A pandemia que enfrentamos recentemente nos mostrou a importância da saúde mental para o enfrentamento da adversidade e nos alertou sobre fatores que estavam sendo negligenciados até então. As repercussões do isolamento, em nível global, reiteraram a importância do ambiente para o ser humano. No caso das crianças, é necessário certo quantum de condições ambientais para que possam adquirir capacidades de socialização fundamentais para o seu pleno desenvolvimento.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) associa a ideia de saúde à percepção de bem-estar. Porém, no que diz respeito à saúde mental, o bem-estar é resultado de um processo complexo que passa necessariamente por estados de conflito e angústias. A saúde mental, assim, não é só uma sensação de bem-estar constante, pois faz parte do humano estar em conflito permanente entre os seus desejos e aquilo que dele se espera socialmente. Também é saudável sentir dúvidas, medos, inseguranças e ter que lidar com emoções boas e más durante a vida. As emoções são o modo como o psiquismo sinaliza para o indivíduo seus estados internos, ou seja, o que o está incomodando, e o que lhe agrada. Emoções são como bússolas que auxiliam a pessoa a se orientar em relação a si mesma e ao mundo.
Sentir emoções, experienciar conflitos e desafios no decorrer do seu desenvolvimento trazem para o indivíduo a necessidade de estar sempre se reequilibrando, adaptando-se, utilizando recursos para lidar com a vida, consigo mesmo e com o mundo que o circunda.
Recursos como a linguagem, a simbolização, a imaginação, a amizade, as crenças, a cultura e a religião são importantes para ajudar o indivíduo a dar sentido às suas experiências. Saúde mental é, portanto, um equilíbrio que não é estável, pois faz parte da vida sofrer, emocionar-se, irritar-se e estar confuso algumas vezes. O indivíduo saudável consegue lidar com tudo isso de uma maneira criativa, não repetitiva ou estereotipada e possui aquilo que chamamos de resiliência, a capacidade de absorver os impactos ambientais e as frustrações do viver. Os recursos psíquicos, o ambiente apoiador e o desenvolvimento dessa resiliência fazem parte do processo dinâmico daquilo que chamamos saúde mental.
Neste 10 de outubro, Dia da Saúde Mental, podemos pensar de que maneira estamos capacitando as crianças para lidar com o mundo em que vivemos. É também uma oportunidade para refletir sobre o modo como estamos cuidando do ambiente, que é tão necessário para o desenvolvimento saudável de uma criança.
Relatoras:
Denise de Sousa Feliciano
Psicóloga e Psicanalista pela International Psychoanalytical Association (IPA)
Membro Associado na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)
Presidente do Núcleo de Estudos de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Arianne Monteiro Melo Angelelli
Psiquiatra da Infância e Adolescência
Membro do Núcleo de Estudos de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo