O dia 16 de setembro é celebrado, desde 1995, como o “Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio”. Para podermos entender verdadeiramente a importância dessa data, vamos relembrar alguns conceitos e um pouco de história…
O ozônio é um gás naturalmente presente na nossa atmosfera. Na faixa da estratosfera, entre 15 e 35 km de altitude, localiza-se a maior concentração do ozônio, formando uma camada responsável pela absorção dos raios ultravioleta (RUV) emitidos pelo Sol, os raios UVA, UVB e UVC.
- UVC é a forma mais perigosa da radiação UV, extremamente danosa à vida. É completamente absorvida pela camada de ozônio e ar atmosférico
- UVB é em grande parte absorvida; em torno de 10% restantes chegam à Terra. Tem papel positivo na síntese de vitamina D, porém a exposição exagerada aumenta as chances de câncer de pele e catarata e suprime o sistema imunológico. Os riscos aumentam se essa exposição acontece antes da idade adulta e for cumulativa ao longo da vida. O excesso de exposição aos raios UVB também prejudica a agricultura, organismos unicelulares e ecossistemas aquáticos.
- UVA representa cerca de 95% da radiação UV que chega ao solo, pois atravessa a camada de ozônio quase sem ser absorvida. Presente com intensidade constante durante todo o dia e o ano, inclusive em dias nublados, pode causar envelhecimento precoce da pele e alguns tipos de cânceres.
A atenção mundial para a camada de ozônio começou a crescer principalmente a partir da década de 1970, quando pesquisas científicas mostraram que atividades humanas estavam interferindo nessa barreira natural, através do acúmulo na atmosfera de gases halogênios, classificados como SDOs (substâncias destruidoras da camada de ozônio), contendo cloro e bromo. Essas substâncias faziam parte do dia a dia da maioria das pessoas em todo o mundo: aparelhos de ar-condicionado, geladeiras, latas de aerossol e inaladores para pacientes asmáticos (clorofluorcarbonetos) e em solventes para limpeza de eletrônicos, espumas de isolamento e painéis de carro (hidrofluorcarbonetos), hálons (utilizados na prevenção de incêndio em aviões, navios e bases militares) e o brometo de metila (era aplicado em frutas e vegetais para o controle de pragas).
Através de uma monitorização internacional em meados da década de 1980, foi relatado um recorrente buraco na Camada de Ozônio, na primavera, sobre a Antártida. A fim de iniciar o combate ao problema, realizou-se a Convenção de Viena, em 1985, onde os países assinantes se comprometiam a monitorar a atividade humana para controlar as SDOs.
Em 16 de setembro de 1989 entrou em vigor o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio. Trata-se de um acordo global de eliminação gradual do consumo e produção de cerca de 100 SDOs, e que tem como grande virtude a flexibilidade para responder a novas informações científicas que surgem ao longo do tempo. Isso lhe permitiu alcançar sucesso em seus objetivos até os dias de hoje. Cerca de 99% das substâncias do Protocolo de Montreal já foram eliminadas e, embora a Camada de Ozônio não esteja totalmente recuperada, há evidências científicas de que isso ocorra até meados deste século.
Outro grande problema que surgiu durante esse processo foi a descoberta de que substitutos das SDOs, que passaram a ser utilizados principalmente na indústria da refrigeração, os hidrofluorcarbonetos (HFCs), são poderosos gases de efeito estufa, cerca de mil vezes mais potentes do que o CO2 na contribuição para as mudanças climáticas. Em 15/10/2016, foi incluída a Emenda de Kigale no Protocolo de Montreal, para o controle de HFCs e que entrou em vigor em 2019. Espera-se que tais medidas possam evitar um aumento de até 0,5ºC na temperatura global até 2100.
Atualmente, modelos computacionais permitem avaliar quais seriam as consequências ao planeta da não assinatura do Protocolo de Montreal. Tal cenário é frequentemente chamado de o “Mundo Evitado”:
- Em meados deste século, valores de índice de UV (IUV) acima de 25 teriam ocorrido na maioria das latitudes e poderiam chegar a 50 nos trópicos. A OMS define índices acima de 11 como extremos, devido ao risco de queimaduras solares.
- Um modelo americano estima que cerca de 443 milhões de casos adicionais de câncer de pele e 2,3 milhões de mortes por câncer de pele aconteceriam nos EUA em pessoas nascidas entre 1890 a 2100.
- O mesmo modelo americano indica que 63 milhões de casos adicionais de catarata aconteceriam em pessoas nascidas entre 1890 e 2100 nos EUA.
- Ocorreriam danos substanciais à produção agrícola, à pesca e aos recursos aquáticos.
- Danos a ecossistemas que permitem água e ar limpos, além da absorção de CO2 da atmosfera, com agravamento das mudanças climáticas.
- Danos à vegetação prejudicariam a disponibilidade de alimentos para herbívoros, o que afetaria toda a cadeia alimentar.
- Ameaça à biodiversidade marinha, com prejuízo ao fornecimento de O2 para a atmosfera e ao fornecimento de alimentos à humanidade.
- Danos a materiais usados na construção, como madeiras e plásticos, aumentando custos.
O Protocolo de Montreal tem sido considerado um grande sucesso no combate à influência humana na degradação ambiental. Entretanto, para defesa da camada de ozônio, é importante que cada um faça a sua parte:
- Descarte geladeiras de forma responsável, em local certificado. Ao comprar eletrodomésticos novos, prefira aqueles com selo “Amigo da Camada de Ozônio” ou “Sem HCFC” ou com selo de “eficiência energética”.
- Ajuste o termostato da sua geladeira ou freezer na temperatura correta, evitando temperaturas muito baixas. Desligue os equipamentos quando não estiverem em uso.
- Garanta um bom fluxo de ar através dos painéis de troca de calor (evaporadores e condensadores) dos seus aparelhos de refrigeração. A geladeira/freezer deve ficar afastada da parede e não deve ser colocada próxima ao forno ou lava-louças.
- Limpe regularmente a parte de trás da geladeira, onde fica o condensador, e descongele o freezer com regularidade.
- Coloque apenas o necessário no congelador; retire os alimentos com antecedência e deixe-os descongelar na geladeira.
- Faça manutenção de aparelhos antigos com especialistas treinados, qualificados e certificados. Eles podem liberar CFC na atmosfera.
- Escolha o aparelho de ar-condicionado de tamanho adequado para o seu ambiente
- Instale o condensador do ar-condicionado num local externo com sombra, e limpe-o regularmente. Instale persianas em locais que recebam muita luz solar que necessita ser resfriada.
- À noite, refresque o ambiente com ventilação, sem o uso de ar-condicionado, se possível. Se precisar usá-lo, busque aumentar a temperatura em relação à que é usada durante o dia.
- Use ventiladores.
- Ligue o ar-condicionado do carro após dirigir alguns minutos com as janelas abertas e procure estacionar o carro na sombra.
- Verifique sempre se há vazamento na geladeira ou no ar-condicionado de sua casa e/ou carro.
E, por fim, apesar de sermos protegidos pela Camada de Ozônio, é importante estarmos cientes dos cuidados com a exposição aos raios ultravioleta.
- Use óculos de sol com classificação de proteção de no mínimo UV 400 (bloqueia 99% a 100% dos raios UV). Associar um chapéu de abas largas durante a exposição ao sol também é benéfico.
- Use protetor solar com FPS de pelo menos 30, aplicar cerca de 15 a 20 minutos antes da exposição ao sol. Lembre-se de reaplicar com frequência, principalmente ao suar e nadar. Se o índice UV estiver alto, limite o tempo de exposição ao sol e associe roupas de proteção.
- Preste atenção ao nível de IUV e ter consciência dos seus limites. Pessoas de pele e olhos claros sofrem queimaduras solares com maior facilidade. Lembre-se de que os raios UV aumentam em altitudes mais elevadas e que podem refletir em superfícies como água, areia e neve. Os raios UV alcançam abaixo da superfície da água, podendo danificar a sua pele.
- Uma maneira de avaliar a intensidade dos raios UV é observar a sua sombra. Quando ela é maior do que a sua altura (no início da manhã ou no final da tarde), há menos exposição. Se sua sombra estiver mais baixa (o que acontece em torno do meio-dia), provavelmente a sua exposição está alta e você deve procurar sombra e proteger sua pele e seus olhos.
Saiba mais:
https://ozone.unep.org
Relatora:
Regina Carnaúba
Membro do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SPSP


