O andador é um equipamento extremamente popular em nosso país e, apesar das recomendações da maioria dos pediatras contra seu uso, ainda é utilizado por muitas famílias brasileiras. Consiste numa base com rodas, geralmente pequenas, que suporta uma armação rígida que apoia um assento com aberturas para as pernas e possui, geralmente, uma bandeja plástica.
Os pais acreditam que, ao usar o andador, a criança estará segura e alegam várias razões para seu uso, como: manter a criança quieta e feliz, encorajar mobilidade, estimular a marcha, fazer exercícios e contê-la enquanto está se alimentando.
Andadores são perigosos!
A maioria dos acidentes acontece enquanto um adulto está cuidando da criança. A criança consegue se mover rápido (1 metro/segundo), alcançar lugares mais altos e perigosos, esbarra bruscamente em móveis, pendura-se em cordões e fios mais altos, consegue agarrar panelas e pratos quentes em cima do fogão e tombar com muita facilidade.
O exemplo do Canadá deveria ser seguido, onde a venda está proibida desde abril de 2004 e não é admitida a venda nem de produtos usados. Nos Estados Unidos a Comissão de Segurança de Produtos para os Consumidores declarou que os andadores respondiam por mais lesões em bebês do que qualquer outro artigo infantil e a Academia Americana de Pediatria também contraindica o aparelho. Várias organizações europeias têm defendido o banimento e a Aliança Europeia para a Segurança Infantil incitou os profissionais de saúde a orientar e educar os pais a respeito dos riscos e sugerir alternativas mais seguras.
O que pode acontecer de errado do ponto de vista físico:
- A criança, ao apoiar os pés no chão, pode impulsionar o corpo para trás e virar o andador, batendo a cabeça no chão ou na parede;
- A criança fica sentada numa posição que força e roda as pernas para fora, isso não é bom para a região onde a cabeça do fêmur encaixa no quadril e ainda pode apoiar os pés no chão de maneira inadequada, dobrando-os para trás, correndo o risco de lesionar os dedos dos pés e tornozelos.
Acidentes que podem acontecer com a criança no andador:
- fraturas e traumatismos cranianos, ao rolar uma escada para baixo;
- queimaduras e ferimentos cortantes, por conseguir alcançar alturas mais elevadas, pegar um copo, um talher em cima da mesa ou panelas no fogão;
- afogamento, ao chegar mais rápido e cair numa piscina, banheira ou balde;
- intoxicações, devido ao acesso aumentado a produtos químicos e de uso domiciliar.
Os acidentes mais graves decorrem de quedas em escadas, degraus e desníveis de piso. E a maioria destes eventos ocorre enquanto quem está cuidando da criança está por perto e simplesmente não consegue alcançar o equipamento. Os fabricantes alegam que o ideal é não proibir os andadores, mas estabelecer normas de segurança – como freios e base mais larga – medidas estas que já foram testadas, tornaram o custo mais alto e não se provaram eficientes em prevenir os acidentes.
Recomendações:
- A aquisição de andadores não é recomendada, por representar risco de lesões graves em crianças pequenas e por não haver benefício algum em seu uso;
- Modificações na estrutura dos andadores para prevenir quedas de escadas (mais largos do que a passagem das portas ou mecanismo de freio para parar quando uma ou mais rodas inclinam-se para baixo) tornam seu custo mais alto e não são eficientes em prevenir os acidentes;
- Uso de etiquetas de advertência, educação, supervisão de um adulto durante seu uso e portões de segurança nas escadas não mostraram serem estratégias suficientes e adequadas na prevenção destes acidentes causados pelo andador;
- Creches, escolinhas e hospitais não devem permitir o uso de andadores;
- Centros de atividades infantis fixos disponíveis no mercado, onde a criança pode girar e virar, eliminam o risco de quedas de escada e são mais seguros que os andadores;
- Todos aqueles que possuem andadores deveriam ser encorajados a levá-los a locais onde sejam destruídos e seus materiais reciclados.
A Sociedade Brasileira de Pediatria, por meio do seu Departamento Científico de Segurança, desde janeiro de 2013, em parceria com a ONG Criança Segura, iniciou campanha de banimento da fabricação e comercialização de andadores infantis no Brasil, em vista dos riscos consideráveis e da falta de qualquer benefício associados ao seu uso por crianças pequenas.
Esta campanha desencadeou, no âmbito do Programa de Análise de Produtos do Inmetro, a avaliação de dez andadores infantis comercializados no Brasil. Como não existe regulamentação nacional para os andadores infantis, o Inmetro usou os critérios adotados pela União Europeia. Os resultados desta análise mostraram que, das dez marcas testadas, nenhuma se mostrou em conformidade com as normas técnicas, principalmente no item relacionado à prevenção de quedas ao descer degraus. O Inmetro decidiu, em agosto de 2013, ao invés do banimento dos andadores, por sua regulamentação, através de normas a serem elaboradas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Uma liminar da Justiça de Passo Fundo (RS), em dezembro de 2013, determinou a proibição da comercialização de andadores infantis em todo o país. Apesar da proibição das vendas, lojas de rua e sites de produtos infantis continuam comercializando andadores, apesar do risco de pagar multa de R$ 5 mil por dia, caso os produtos continuem a ser vendidos.
Enquanto este progresso não chega ao Brasil, continuamos contando com o bom senso dos pais, no sentido de não expor os bebês a um produto perigoso e absolutamente desnecessário.
MANTENHA SEU FILHO SEGURO! NÃO ADQUIRA O ANDADOR. INUTILIZE E JOGUE FORA SE POSSUI UM.
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Relatora:
Dra. Renata Dejtiar Waksman
Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SPSP
Coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência contra a Criança e o Adolescente da SPSP
Publicado em 31 de março de 2014.
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