O que a vovó diria se assistisse a série Round 6?

O que a vovó diria se assistisse a série Round 6?

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 09/11/2021


Episódio 8: O que a vovó diria se assistisse a série Round 6?

Provavelmente exclamaria: “Que horror!”

A humanidade levou muitos anos para se convencer que a “criança não é um adulto em miniatura”, entretanto, estamos vivendo um retorno, consciente ou não. Pequenos atos permitidos ou aceitos pelos adultos são expressões dessa regressão de entendimento. Vejam alguns exemplos:

  1. Permitir que uma criança assista a um filme, série, ou programa de TV não recomendado para a idade.
  2. Erotização precoce da criança através de maquiagem, vestuário.
  3. Cobrança de comportamentos e performances não adequados à maturidade psicoemocional ou física da criança.
  4. Delegar autonomia exagerada e expô-la a situações de vulnerabilidade.

Está na roda de discussão entre crianças e adolescentes a série Round 6, nas escolas e outros espaços. Essa produção sul-coreana é recomendada para maiores de 16 anos.

Esse fato permite que se faça algumas considerações:

  1. Nenhuma produção artística se torna famosa e bate recordes de bilheteria ou audiência “do nada”. Há mérito na produção.
  2. Podemos não concordar com a linguagem da mesma, entretanto, é uma crítica inteligente à sociedade moderna.
  3. O poder de comunicação das redes sociais é um fato.
  4. O limite para o seu uso pelas crianças é o grande problema.
  5. Esse limite, independentemente de qualquer regulação governamental, ou externa, tem que ser executado pelos pais.
  6. O diálogo intergeracional é fundamental para sedimentar valores em qualquer sociedade.

No tempo da vovó se cantava: “Atirei o pau no gato tô tô, mas o gato tô tô não morreu reu reu. Dona Chica cá, admirou-se se se, do berrô, do berrô que o gato deu. Miau!!!!!!”.

A violência sempre apresentou sua cara, ora disfarçada, ora evidente… ora querendo brincar, ora querendo matar. A cantiga da Dona Chica, hoje, se tornou “politicamente incorreta”, entretanto, “Round 6” não é assim considerado.  O que mudou? Talvez apenas o nosso limiar de sensibilidade. A sociedade que “coisifica” o ser humano é a que nos insensibiliza para a dor do outro… nos torna menos humanos. Esta é a grande lição de Round 6.

Relator:
Fernando M F Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Foto: creatista | depositphotos.com