O que mudou na pandemia?

O texto anterior, publicado em 17 de março de 2020, tem trechos destacados em itálico e entre aspas e o texto atual está em negrito.

Assim começava o texto publicado no BLOG em março de 2020:

Coronavírus: sem pânico, com responsabilidade.

“Parece estranho esse título? Nem tanto”.
Passamos, no momento, por uma situação desconhecida ou já esquecida por grande parte dos brasileiros (última em 2009 – H1N1): PANDEMIA.
Quase um ano depois, com mais conhecimento, muitos estudos, muito progresso da ciência (e da “anticiência”, mais conhecida como fake news), sim, tivemos mudanças. Mas, com certeza, a imensa maioria delas não representa o que todos imaginavam.

No momento, os países mais afetados com novos casos são a Itália (cerca de 3.500), Espanha (1.500), Irã (1.365), França (830) e Alemanha (735)”.
Esses números também mudaram muito desde então, e de forma incontestável:
Com quase 103 milhões de casos e mais de 2.2 milhões de mortes no mundo, o Brasil agora ocupa o 3º lugar nas estatísticas mundiais de COVID-19 (perto de 9.3 milhões) e o 2º na contagem de óbitos (225 mil).
Apesar de incansáveis pesquisas, tentativas de evitar a disseminação do vírus (lockdown, fronteiras fechadas, distanciamento social), os números são implacáveis. E se antes alguns imaginavam que a pandemia fosse uma “nuvem passageira”, agora estamos todos no “olho do furacão”.

nghi nguyen | pixabay.com

Por ser um coronavírus novo (há outros que já circulam entre nós, mas sem as mesmas características), ninguém está naturalmente protegido contra ele e não existem nem vacinas e nenhum tratamento milagroso que aumente a imunidade geral ou específica em relação ao vírus”.
Agora, presenciamos o aparecimento de mutações do SARS-Cov-2, que se espalham com velocidade maior e, no mínimo, mantém o nível de letalidade, trazendo, a cada dia, mais leitos de UTI ocupados no Brasil, esgotando recursos materiais (até o oxigênio na Amazônia), logísticos (leitos em hospitais) e humanos (muitos trabalhadores da saúde perdendo suas vidas).

Não. Não existe soro preparado que aumente a imunidade contra o vírus.
Não. Não existem nem preparados vitamínicos ou dieta específica contra o vírus.
Não. Não existe nenhum tratamento homeopático ou fitoterápico contra o vírus.”
A isso, poderíamos acrescentar:
Não. Não existe nenhum tratamento medicamentoso preventivo ou curativo comprovado por estudos até hoje contra o vírus.

Existem, nas redes sociais e na internet, “estudos” que mostram a ação de determinadas drogas e substâncias na prevenção da COVID-19. E, infelizmente, além da população que recorre à internet em busca não filtrada de informações, há profissionais de saúde que ainda acreditam nesses “estudos”, constantemente desmentidos pela comunidade científica nacional e internacional. 

Quem não gostaria que isso fosse verdade? Quem não gostaria que fosse apenas tomar essas substâncias e não aconteceria a transmissão incontrolável do vírus que tirou a vida de familiares, amigos e até de quem usou esses “tratamentos milagrosos” na esperança de vida?

Agora, ainda pela ação da ciência, da questionada ciência, parece haver luz no final do túnel com as vacinas, que passaram por todas as fases de estudos necessárias para serem liberadas. Quem, em sã consciência, pode sequer supor que cientistas e instituições liberariam um tratamento, qualquer que seja ele, nesse momento, sem a eficácia e a segurança exigidas? Para falarmos só no Brasil, quem pode questionar a idoneidade do Instituto Butantan e da FIOCRUZ?

A vacina é o maior avanço contra o coronavírus que começamos a ter em mãos. Mas isso está longe de significar que os vacinados podem sair sem proteção adequada. Ainda não há estoque de vacinas suficiente para todos e a previsão é de que o país seja imunizado, de forma satisfatória, apenas perto do final desse ano. Existe uma programação de vacinação e uma razão para isso (uma “fila”?). Não é educado, ético ou adequado “furar essa fila”. Sem a proteção de todos, a proteção individual é incompleta e não necessariamente eficaz.

O que funciona é INFORMAÇÃO AÇÃO.
O que funciona é PREVENÇÃO e (o nome do momento) CONTENÇÃO.
O que funciona é RESPONSABILIDADE e SOLIDARIEDADE.
Isso não mudou. Isso não vai mudar nunca.

E para concluir:
Não. Coronavírus não é um simples resfriado ou uma gripe.
Não. Coronavírus não é uma manobra política ou econômica.
Não. Coronavírus não é uma invenção da mídia.
Coronavírus existe, se espalha e pode matar.
As recomendações de contenção orientadas pelas sociedades (Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Infectologia, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e órgãos oficiais (OMS e o nosso Sistema Único de Saúde) devem ser seguidas à risca: lavar as mãos, não beijar, não apertar as mãos, não abraçar, usar de álcool gel e tomar providências muito importantes como: lavar mais ainda as mãos, não sair correndo para estocar alimentos e evitar pânico e alarmismo.
Aqui vale acrescentar o uso de máscaras, que na época não tinha se mostrado ainda uma medida fundamental de segurança.

Quanto mais cedo nos distanciarmos fisicamente, mais cedo poderemos nos abraçar.
A cada mês que passa estamos mais distantes do começo da pandemia. O final dela depende da ciência, depende de cada um de nós, depende de todos nós. Somos todos pela vida.

Não é só sobre não ficar doente. É sobre querer que ninguém fique também.

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Relator:
Yechiel Moises Chencinski
Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo