O crescimento do recém-nascido de muito baixo peso

Relator:
Dr. Paulo Roberto Pachi
Mestre e Doutor em Pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Médico Chefe de Clínica Adjunto da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Professor assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Presidente do Depto. Científico do Neonatologia da SPSP


O crescimento depende da tríade: potencial biológico, nutrição pré e pós-natal e doenças concorrentes.

Quando os dois últimos o permitem, o primeiro se expressa em sua magnitude. Porém, se a demanda nutricional não for satisfeita quantitativa e qualitativamente e/ou ocorrer estresse metabólico (consequente a doenças) e alterações hormonais (glandulares e/ou de receptores), o crescimento adequado pode não se dar. Essa dependência da interação entre genoma e ambiente, torna o crescimento o reflexo do estado de saúde e das oportunidades nutricionais disponíveis.

Por ser população com alta demanda nutricional para a recuperação pondo-estatural (“catchup”), limitações digestivas e metabólicas consequentes às comorbidades presentes dificultam que as grandes necessidades sejam satisfeitas no pós-natal imediato, resultando nas perdas de peso observadas nas primeiras semanas de vida (“catchdown”).

Dependendo da idade gestacional (IG) em que isso ocorra, o potencial de crescimento pode ser comprometido, justificando as significativas diferenças na estatura final observadas nesta população (em média 5,5 cm a menos que nos nascidos a termo).

A baixa IG, a intensidade das doenças perinatais (e os escores de gravidade) dificulta o adequado aporte proteico-calórico desde o primeiro dia de vida, afetando diretamente as possibilidades de “catch-up”. Facilidade em atingir alimentação enteral plena e menor morbidade perinatal estão ligados a uma melhor recuperação, e Doença Pulmonar Crônica, Enterocolite e Sepse, vão no sentido oposto.

Restrições ao crescimento fetal afetam negativamente o potencial de recuperação pós-natal; quanto maior a duração, a intensidade e a precocidade dos agravos, menores são as chances de recuperação. Aproximadamente 10% das crianças nestas condições não atingem o padrão de crescimento estatural esperado, sendo que os que o fazem consolidam essa recuperação nos dois primeiros anos de vida, porém, aos três anos de idade, ainda 50% estão com peso menor que a média para a idade, comparados a 15% na mesma situação nos que não passaram pelas restrições intra-útero.

Recém-nascidos de extremo baixo peso, por sua vez, ao superarem os obstáculos, podem alcançar o seu ponto de equilíbrio (a chamada homeorexe) apenas aos cinco anos de idade, mas 15% não o fazem. Aos oito anos de idade permanecem com peso, estatura e perímetro cefálico abaixo que os controles de termo. Espera-se que o “catch-up” ocorra entre os oito e doze meses de idade corrigida, sendo a ordem de recuperação dos dados antropométricos: peso, perímetro cefálico e finalmente, estatura.

 

Texto original publicado no Boletim Pediatra Informe-se Ano XXVII * Número 158 * Julho/Agosto de 2011.