Papinha pronta versus papinha caseira

Papinha pronta versus papinha caseira

dreamstime_xs_22744947O jornal Folha de São Paulo veiculou matéria sobre estudo britânico, publicado no British Medical Journal, que analisou mais de 350 papinhas prontas. O artigo informa que, embora aparentemente saudáveis – sem conservantes e sem adição de açúcar – as papinhas industrializadas têm menos nutrientes e menor diversidade de sabor e de textura do que as feitas em casa, além de serem muito doces. De acordo com a pediatra Roseli Sarni, da diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria, entrevistada para a matéria, as papinhas mudaram nos últimos cinco anos, devido a pedidos da entidade médica. “Tiraram açúcar, adicionaram leite em algumas delas. Mas não consideramos que seja um alimento completo.”

Folha de São Paulo, 17 de setembro de 2013
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/129412-muito-doce-muito-mole.shtml

Comentários:
Dr. Rubens Feferbaum
Vice-presidente do Departamento Científico de Nutrição da SPSP

O interessante artigo do British Medical Journal e os pertinentes comentários dos especialistas apontam as vantagens e desvantagens das papas industrializada e caseira “salgada” (termo inadequado e fora de uso desde que não deve ser adicionado sal, mas somente o que naturalmente contém os alimentos) e “doce” (idem, sem adição de açúcar) constituída por frutas e/ou cereais na alimentação complementar do lactente.

Crianças em aleitamento materno devem receber papa com legumes, cereais, hortaliças e carne (sem adição de sal, açúcar e gorduras saturadas) e papa de frutas a partir dos 6 meses de idade. A introdução e escolha dos ingredientes deve ter orientação do pediatra visando uma alimentação complementar saudável e equilibrada para a criança.

Papas industrializadas têm melhorado na composição dos alimentos e no seu valor nutricional, mesmo porque, devem obedecer parâmetros de qualidade determinados no Brasil pela ANVISA e Ministério da Agricultura, que possuem legislação frequentemente mais rígidos que os das agências similares europeias ou norte americanas. Foram eliminados aditivos artificiais (sabor e cor) e conservantes químicos. De maior importância é a “rastreabilidade” do produto desde o controle da matéria prima utilizada e o processo industrial garantindo segurança química (ex: pesticidas, contaminantes) e bacteriológica. Por estes motivos torna-se necessário comparar composição e qualidade de produtos produzidos em diferentes países.

No entanto, as dificuldades na indicação são mais evidentes nas papas industrializadas devido às suas características como sabor e consistência, que não se comparam com a papa “caseira”. Há necessidade de a criança discriminar sabores, desenvolver a mastigação com alimentos “pedaçudos” e, gradativamente, ao final do 1º ano de vida, aceitar a comida da família, respeitando muitas vezes hábitos alimentares culturais e/ou regionais. Há inclusive um movimento (weaning) que consiste em oferecer à criança alimentos na consistência natural para melhor desenvolvimento dos aspectos citados. Mas atenção: sempre avaliado e respeitado o ritmo e condições de aceitação individual da criança.

Em conclusão: papa industrializada é opção para uso esporádico, em especial por sua praticidade; papa “caseira” no uso rotineiro, bem feita e orientada é mais interessante no desenvolvimento de uma alimentação e estilo de vida saudáveis que terão impacto na saúde do futuro adulto.

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Publicado em 14/02/2014.
photo credit: Aldegonde Le Compte | Dreamstime.com

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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