Pediatras! quem somos?

Pediatras! quem somos?

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 27/07/2021

Nós Pediatras somos os profissionais da saúde que temos o privilégio de acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança e atuar como “consultores familiares”. Somos interlocutores com grande poder de influência e de interação com as famílias. Para um mundo cambiante, dramaticamente veloz em suas transformações, não podemos deixar de testemunhar essas mudanças e não podemos deixar que as crianças se “adultizem” antes do tempo, que se “erotizem” antes da hora, que se alienem, que deixem de desfrutar da natureza e de a explorar com olhos de encantamento.  Nós Pediatras somos os defensores das crianças e curadores dessa responsabilidade quanto ao seu desenvolvimento.

Segue um texto do nosso grande educador Rubem Aves (15/10/2012), com os “Dez direitos naturais das crianças”:

  1. Direito ao ócio: Toda criança tem o direito de viver momentos de tempo não programado pelos adultos;
  2. Direito a sujar-se: Toda criança tem o direito de brincar com a terra, a areia, a água, a lama, as pedras;
  3. Direito aos sentidos: Toda criança tem o direito de sentir os gostos e os perfumes oferecidos pela natureza;
  4. Direito ao diálogo: Toda criança tem o direito de falar sem ser interrompida, de ser levada a sério nas suas ideias, de ter explicações para as suas dúvidas e de escutar uma fala mansa, sem gritos;
  5. Direito ao uso das mãos: Toda criança tem o direito de pregar pregos, de cortar e raspar madeira, de lixar, colar, modelar o barro, amarrar barbantes e cordas, de acender o fogo;
  6. Direito a um bom início: Toda criança tem o direito de comer alimentos sãos desde o nascimento, de beber água limpa e respirar ar puro;
  7. Direito à rua: Toda criança tem o direito de brincar na rua e na praça e de andar livremente pelos caminhos, sem medo de ser atropelada por motoristas que pensam que as vias lhes pertencem;
  8. Direito à natureza selvagem. Toda criança tem o direito de construir uma cabana nos bosques, de ter um arbusto onde se esconder e arvores nas quais subir;
  9. Direito ao silêncio: Toda criança tem o direito de escutar o rumor do vento, o canto dos pássaros, o murmúrio das águas;
  10. Direito à poesia: Toda criança tem o direito de ver o sol nascer e se pôr e de ver as estrelas e a lua.

Brincar é coisa de criança – direito que lhe é próprio e inalienável. Brincar é coisa séria, é por meio do brincar que a criança processa a realidade, cria e recria o mundo em que vive, tenta entender o que lhe acontece, elabora saídas, explicita suas dúvidas e angústias. O brincar ajuda a criança a amadurecer, oferecendo-lhe desafios intelectuais e emocionais.

Um bom brinquedo (ou uma boa brincadeira) não necessariamente precisa ser comprado, nem ser do último tipo produzido pela moderna tecnologia. Um bom brinquedo pode ser feito em casa, com coisas tão simples quanto uma folha de papel, uma caixa de lápis de cor, uma lata vazia, uma caixa de papelão, revistas e jornais velhos, pedaços de pano e de cordas, botões e tantas outras coisas simples. Não basta, entretanto, darmos brinquedos para nossos filhos, é necessário brincar com eles, “estar junto”. Algumas razões:

  • A infância passa rápido e não volta, nem para a criança, nem para os pais;
    • Este é um tempo fundamental para o estabelecimento da personalidade;
    • Os filhos vão guardar na lembrança muito mais o momento do convívio entre eles e os pais, do que do modelo “X” ou “Y” de determinado brinquedo que tiveram na infância. Lembrarão aquele seu olhar, aquele seu gesto, aquele seu sorriso, o contato pele a pele, o pegar no colo, o sentar-se no chão, o correr atrás, o andar na garupa da bicicleta agarrado à sua cintura, o tom da voz quando você lhe contou uma determinada história, o seu interesse demonstrado por elas.

Isso não tem preço, e é uma questão de prioridade. Não podemos esquecer que esse mundo da criança é o nosso objeto de trabalho, interesse e satisfação.

Relator:
Fernando M F Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP