Quando os problemas visuais influenciam no aprendizado

Quando os problemas visuais influenciam no aprendizado

A dificuldade de aprendizado é uma condição que interfere na habilidade de aprender a ler, compreender o que lê, escrever ou soletrar, calcular ou aprender uma língua estrangeira.

A inteligência é normal e afeta de 15 a 20% da população. O diagnóstico é feito pela avaliação da habilidade intelectual e da capacidade linguística e de processamento de informações.

Alterações visuais oftalmológicas não afetam a habilidade do cérebro de processar visualmente o estímulo e as crianças com dificuldade de aprendizado não têm uma incidência maior de alterações visuais do que a população normal de crianças.

Entretanto, a eficiência visual pode estar afetada quando ocorre: fadiga visual, diplopia, erro refrativo e acomodação visual insuficiente. O tratamento dessas alterações melhora o conforto na leitura, mas não necessariamente vai melhorar o aprendizado.

FADIGA VISUAL: pode ser causada por ametropia do tipo hipermetropia acima do fisiológico em crianças, astigmatismo hipermetrópico, olho seco, desvio ocular intermitente.

DIPLOPIA: cada vez mais frequente em crianças que ficam muito tempo no celular com uso constante da visão perto e convergência excessiva, apresentam visão dupla ou atrapalhada para longe, pois têm dificuldade de relaxar os retos mediais.

ERRO REFRATIVO: hipermetropia, miopia e astigmatismo, com visão borrada ou sombreada, que melhora com o uso da correção óptica adequada. Nesses casos pode ocorrer dor de cabeça branda, leve, geralmente no final do dia, após atividades escolares, além de desinteresse e sonolência na leitura.

ACOMODAÇÃO VISUAL INSUFICIENTE: algumas crianças não têm um autofoco longe-perto adequado com piora da visão perto ou dificuldade de manter o foco confortável por tempo prolongado durante a leitura. O exame de refração dinâmica pode detectar essa dificuldade e o uso de óculos para perto melhora a visão.

Muitas vezes a dificuldade de aprendizado é causa de insucesso na escola e repetência, e a investigação começa pela parte visual e a consulta com oftalmologista.

O exame oftalmológico inclui: acuidade visual longe e perto, ponto próximo de acomodação, estereopsia, avaliação dos meios ópticos, ponto próximo de convergência, motilidade ocular, visão de cores, refração dinâmica (sem dilatação de pupila ou cicloplegia) e estática (com cicloplegia), fundo de olho.

Alguns tratamentos propostos, como aumento da amplitude fusional, seguimento de objeto em movimento, achar objetos “escondidos” e ler através de lentes coloridas ou filtros (Irlen) NÃO apresentaram evidências científicas e a orientação à família deve ser clara quanto a não realizar terapias visuais que não têm comprovação real de resultados.

O tratamento adequado da correção óptica, uso de colírios lubrificantes e orientação quanto a evitar o uso excessivo da visão perto podem oferecer a criança maior conforto e ser um fator a menos que impede o seu total desempenho no aprendizado.

Relatora
Marcia Keiko Uyeno Tabuse
Departamento de Oftalmologia da SPSP