Retrospectiva Momento Saúde: cólicas no primeiro ano de vida

Retrospectiva Momento Saúde: cólicas no primeiro ano de vida

momento saúdeApresentamos – nesta época de férias – uma retrospectiva de todos os artigos publicados em nossa coluna Momento Saúde, criada em 2017 pela equipe do blog Pediatra Orienta para que você possa ter informações rápidas sobre um determinado tema de relevância para a saúde das crianças e adolescentes, com textos curtos e de linguagem simples.

Agora o assunto é:
Cólicas no primeiro ano de vida

 

Cólica: o que é e quais os sinais

As clássicas cólicas do lactente se destacam em prevalência, variando de 10 a 30% em todo o mundo. Refere-se ao choro súbito, inexplicado e inconsolável (que não responde às medidas habituais de conforto), que costuma ocorrer a partir da segunda semana de vida, sendo a sexta semana a fase do pico de choro do lactente, durando até os três meses de idade.

A cólica típica se manifesta como uma crise de choro forte, agudo, estridente e “em crescendo”, acompanhada de face mais avermelhada ou contraída, as mãos ficam apertadas, as coxas ficam fletidas sobre o abdome (o famoso encolhimento de pernas do bebê). Com frequência ocorre a eliminação de gases, que parece trazer um alívio temporário para a crise. Esse choro persiste por algum tempo, cessa espontaneamente, mas pode retornar logo a seguir, quando a cólica volta a ocorrer. Todas estas manifestações representam uma crise de dor que ocorre mais frequentemente entre 18 e 22 horas.

Na prática, então, a cólica é frequentemente caracterizada apenas pelo choro sem motivo aparente, que ocorre em crianças saudáveis com ganho de peso e estatura dentro do esperado.

Quais as causas

Nenhum fator isolado explica a cólica do lactente, podendo ser uma variante normal e estar relacionada à imaturidade fisiológica. Pode também resultar de um distúrbio no binômio mãe-filho, em que a angústia e ansiedade maternas geram estresse e inquietação no bebê, interferindo no momento da amamentação.

Outras causas podem ser: técnica incorreta de amamentação, que resulta em aerofagia (criança engole ar); distonia neurovegetativa, resultando numa motilidade intestinal alterada, com aumento do peristaltismo e da pressão retal. O excesso de gases – que gera flatulência e distende as alças intestinais provocando as cólicas – também pode ser atribuído a uma má absorção fisiológica e transitória da lactose. Para lactentes em aleitamento artificial, o preparo incorreto da fórmula é uma causa importante.

O que fazer e como tratar

Diante deste momento de choro inconsolável, que traz aos pais um sentimento de frustração e impotência, o mais importante é manter a calma e ter muita paciência para poder ajudar o bebê a passar por esse período. Algumas intervenções comportamentais podem ser eficazes no manejo das cólicas: aconchegar a criança para junto do corpo, intercalando com exercícios de massagem no abdome e movimentos com as pernas “tipo pedalar uma bicicleta”. Além disso, a redução de estímulos como “chacoalhar” e diminuir o nível de barulho no ambiente também ajuda a reduzir a frequência e a intensidade do choro.

Corrigir a técnica de amamentação, propiciando uma pega adequada do seio materno e a não deglutição de ar, bem como o correto preparo e diluição da fórmula láctea, em caso de bebês não amamentados exclusivamente, também são intervenções importantes.

Em alguns casos, a intervenção na dieta pode ser efetiva, com exclusão temporária da proteína do leite de vaca da dieta materna em lactentes em aleitamento materno. Já quando o bebê estiver em uso de fórmula láctea, a troca por fórmulas parcialmente hidrolisadas ou com baixo teor de lactose, pode ajudar.

A intervenção farmacológica deve ser discutida caso a caso com o pediatra que acompanha o lactente. A Dimeticona é um óleo inerte que quebra as bolhas de ar, reduzindo a flatulência e o uso de analgésicos comuns pode ser necessário.

Quando não se tratar da clássica cólica do lactente

Fora dessa faixa etária, principalmente após o sexto mês de vida, quando há a introdução da alimentação complementar, as cólicas ainda podem ocorrer com intensidade e frequência diferentes, dependendo da causa.

A introdução da alimentação complementar por si só pode causar cólicas devido a adaptação do organismo a esses novos alimentos apresentados. Além disso, a ingestão excessiva de alimentos, bem como de alimentos impróprios para essa fase, como salgadinhos e guloseimas, pode provocar desconforto tanto intestinal quanto gástrico. Verminoses, incomuns nessa idade, podem ocorrer por falta de higiene no preparo dos alimentos e na falta de fervura da água oferecida à criança. Infecções, tanto por vírus quanto por bactérias, também podem acometer o bebê, porém costumam estar associadas a outros sintomas (vômitos, diarreia, febre).

A constipação intestinal, ou intestino preso, pode ter a cólica como sintoma importante, associada a dificuldade para evacuar. Pode ser causada por uma dieta pobre em verduras, legumes e frutas, além da baixa ingestão de água.

Todos os casos devem ser avaliados e orientados individualmente pelo pediatra, o melhor profissional para acompanhar as crianças em todas as fases da vida.

joffi | Pixabay

 

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Relator:
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

Republicado em 19/12/2018.

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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