Sífilis na gestante e sífilis congênita: a urgência da prevenção materno-fetal

Sífilis na gestante e sífilis congênita: a urgência da prevenção materno-fetal

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), causada pela bactéria Treponema pallidum. Embora seja uma doença com tratamento simples e eficaz (geralmente com penicilina), sua presença durante a gestação representa um grave risco para a saúde do bebê, podendo levar à sífilis congênita.

 Sífilis na gestante: um risco silencioso

Quando a sífilis afeta a gestante, a bactéria pode atravessar a placenta em qualquer fase da gravidez e infectar o feto. Muitas vezes, a sífilis materna pode ser assintomática ou apresentar sintomas leves (como feridas ou manchas na pele, que desaparecem sozinhas), levando a gestante a desconhecer a infecção. Isso torna o rastreamento pré-natal uma etapa crucial.

As consequências da sífilis não tratada na gestação são sérias e incluem:

  • Abortamento espontâneo ou natimorto (morte fetal).
  • Parto prematuro.
  • Hidropsia fetal (acúmulo de líquido em vários órgãos do feto).

 

Sífilis congênita: as consequências para o bebê

A sífilis congênita ocorre quando o bebê é infectado pela mãe durante a gestação. A doença pode se manifestar de diversas formas e em diferentes momentos após o nascimento.

Em alguns casos, o bebê pode nascer sem sinais visíveis da doença. No entanto, sem tratamento adequado, a sífilis congênita pode causar lesões graves e irreversíveis, como:

  • Problemas ósseos e articulares.
  • Anemia e icterícia (pele e olhos amarelados).
  • Neurossífilis (infecção do sistema nervoso central), podendo causar meningite.
  • Alterações dentárias e oftalmológicas (visão).
  • Surdez ou atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, manifestando-se anos após o nascimento.

 

A importância crítica da prevenção materno-fetal

A transmissão da sífilis da mãe para o bebê é totalmente evitável. A prevenção reside em três pilares fundamentais: diagnóstico precoce, tratamento adequado e acompanhamento do parceiro.

  1. Diagnóstico oportuno e universal:
    • Toda gestante deve ser testada para sífilis já na primeira consulta do pré-natal.
    • O teste deve ser repetido no segundo e no terceiro trimestres da gestação e, novamente, no momento do parto. O teste rápido, de resultado imediato, é uma ferramenta essencial para o diagnóstico rápido em qualquer nível de atenção à saúde.
  2. Tratamento imediato e adequado:
    • Uma vez diagnosticada, a gestante deve ser tratada imediatamente com o esquema correto de penicilina benzatina, a única medicação que garante a cura materna e a prevenção da infecção fetal.
    • É imprescindível que o parceiro sexual também seja testado e tratado simultaneamente para evitar a reinfecção da gestante.
  3. Acompanhamento pós-tratamento:
    • A gestante e o parceiro devem ser acompanhados com exames de controle para monitorar a resposta ao tratamento e garantir a cura.
    • A efetividade do tratamento materno é o fator-chave para que o bebê nasça sem sífilis congênita.

Neste Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita, celebrado no terceiro sábado de outubro, é importante enfatizar que a luta contra a sífilis congênita passa necessariamente pela qualidade da assistência pré-natal. Garantir que todas as gestantes sejam testadas, tratadas de forma completa e imediata, juntamente com o tratamento de seus parceiros, é a estratégia mais eficaz para que os bebês nasçam saudáveis e livres das consequências devastadoras dessa doença.

 

Relatora:

Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck
Coordenadora do Grupo de Trabalho da Prevenção e Tratamento da Sífilis Congênita da SPSP
Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SPSP