Síndrome de Down e apneia obstrutiva do sono

Síndrome de Down e apneia obstrutiva do sono

A apneia obstrutiva do sono é bastante prevalente na Síndrome de Down ou Trissomia do Cromossomo 21, afetando cerca de 50 a 100 % das crianças. Esse quadro caracteriza-se, principalmente, por roncos noturnos e pequenas pausas respiratórias durante o sono, as quais chamamos de apneia. Esses sintomas são os mais comuns, mas outros também podem estar presentes.

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É importante dizer que ronco é um ruído respiratório grave, mais ou menos forte, que aparece durante o sono. Além disso, qualquer ruído respiratório durante o sono deve ser investigado.

Além do ronco, respiração ofegante, pausas respiratórias e aparentes engasgos podem fazer parte do quadro. As crianças apresentam sono agitado, com constantes mudanças de posição, ou mesmo estranhas posturas, tais como dormir de barriga para baixo com as pernas encolhidas, hiperextensão da cabeça etc.

Destacam-se, também, alguns sintomas diurnos, relacionados à apneia, tais como: irritabilidade, impulsividade, concentração deficiente, sonolência diurna. A apneia do sono pode ainda sobrecarregar o sistema cardiorrespiratório, relembrando-se também que estas crianças apresentam maior prevalência de doenças cardíacas. Há ainda prejuízos para a memória de longo prazo e desenvolvimento da linguagem.

Frente a esses sintomas, as crianças precisam ser investigadas. Muitas vezes os familiares não apresentam uma percepção detalhada dos sintomas respiratórios durante o sono, por isso, desde 2011, a Academia Americana de Pediatria recomenda a realização de polissonografia de rotina aos quatro anos de idade na Síndrome de Down. O principal fator a ser investigado é o aumento das amigdalas e adenoide, porém na Síndrome outros fatores também influenciam a apneia, tais como a macroglossia (língua maior que a cavidade bucal), hipoplasia do terço médio da face, hipotonia muscular (redução da força muscular) e sobrepeso.

Tratamento

O tratamento da apneia obstrutiva do sono é mandatório para melhorar a qualidade de vida e evitar sequelas a longo prazo, uma vez que a sobrevida desses pacientes hoje ultrapassa os 60 anos.

O tratamento inicial de escolha é a adenoamigdalectomia (retirada das amigdalas e adenoide), que apresenta uma eficácia de 50 a 70 %. A cirurgia deve ser complementada, de acordo com cada caso, com tratamento ortodôntico para expansão dos arcos dentários, terapia fonoaudiológica miofuncional e fisioterapia para melhora do tônus muscular e, em casos mais graves, adaptação de CPAP (“Continuous Positive Airway Pressure” – Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas – aparelho que fornece fluxo contínuo e constante de ar pressurizado para as vias aéreas do paciente). Eventualmente podem ser necessários tratamentos cirúrgicos complementares abordando-se a hipertrofia de cornetos inferiores, macroglossia ou mesmo o palato mole.

O controle de peso deve ser sempre rigoroso, uma vez que sobrepeso e obesidade são fatores que pioram o desconforto respiratório do sono, entre eles a apneia.

O diagnóstico precoce e a boa condução no tratamento da apneia obstrutiva do sono resultam em melhora importante da qualidade de vida da criança, interferindo não apenas em seu desenvolvimento físico, como também cognitivo.

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Relatora:
Dra. Renata Di Francesco
Departamento Científico de Otorrinolaringologia da SPSP

Publicado em 21/03/2019.

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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