Tá muito quente, né?

Tá muito quente, né?

dreamstime_xs_20561164Tantos recordes batidos no dia-a-dia e janeiro foi o mês mais quente dos últimos 70 anos, com uma média mensal chegando quase aos 32º (batendo nos 40º no Rio Grande do Sul). Já estamos em fevereiro e não tem cara de que vai parar tão já. Assim, além da preocupação atual, não podemos deixar de pensar nas chuvas de março, fechando o verão, que prometem bater os seus próprios recordes também (mas isso vai ser tema de outro informativo).

Muita gente prefere o clima mais frio (sempre dá pra colocar uma roupa a mais por cima) ao calor, mas a maioria é mais chegada ao sol. O sol pode trazer benefícios ao nosso organismo, mas o extremo calor desses dias pode gerar riscos importantes que merecem um cuidado a mais.

O calor nos afeta de diversas formas, interferindo, nem sempre de forma positiva, no dia-a-dia de nossas crianças. Quadros respiratórios, alérgicos, digestórios, de pele são muito característicos desse clima (seco e quente).

Sono

Durma-se com um barulho desses, não é mesmo? E com um calor desses? Quanta dificuldade.

A transpiração aumenta, requerendo quarto mais arejado, roupas mais leves e pouca coberta (lençóis). O quarto deve estar ventilado e arejado, lembrar que janelas abertas podem ajudar, mas os insetos atrapalham o sono e as crianças podem ser picadas, desenvolver alergias, se coçarem e isso interfere no seu sono. Somam-se a isso crianças que são “alérgicas” ao seu suor (sudamina) e que precisam de cuidados especiais com roupas, banhos e higiene geral.

Clima quente requer vento frio para baixar a temperatura. E no quarto das crianças, os ventiladores e o ar condicionado podem atrapalhar tanto os alérgicos, pela dispersão dos alérgenos pelo ar, como por baixar demais a temperatura à noite, quando as crianças estão com menos roupa e descobertos.

Mas o calor, dessa vez, não veio sozinho. Ele veio acompanhado do ar seco. A represa da Cantareira, que abastece grande parte da cidade de São Paulo, está com seu nível em 21% do normal, com chance de sermos obrigados a passar por um racionamento indesejável: o de água. Assim qualquer desperdício pode ser fatal. Mas com o ar seco, umidificadores de ar, toalhas molhadas e até bacias (em espaços menores, cuidado com crianças pequenas, pelo risco de afogamento) podem passar a fazer parte da mobília da casa e do quarto das crianças.

Apetite e sede

Quando estamos em clima quente, para mantermos nossa temperatura constante, ficamos vermelhos e transpiramos. O corpo direciona mais sangue para a pele para que haja uma troca de calor e, através da transpiração, possamos manter a nossa homeotermia. E o que isso tem a ver com o apetite?

Crianças e adolescentes costumam apresentar uma infinidade de problemas relacionados ao apetite, desde o já famoso “meu filho não come”, até o cada vez mais comum atualmente “meu filho come demais”. Porém, no calor, nosso corpo necessita de alimentação mais fresca. A digestão, que requer fluxo sanguíneo adequado, pode ser prejudicada no calor extremo, quando o sangue está mais direcionado para a pele para manter a temperatura corporal constante.

Onde vamos achar esse tipo de alimento? No cardápio favorito de quase todas as crianças: nas saladas, nos legumes e nas frutas frescas. Se já não é fácil manter essa orientação no cotidiano, nessa época fica no mínimo tão complicado quanto.

Tão importante quanto o que comer é o que não comer. Apesar de ser uma época de muita pressão de consumo, deve-se evitar refrigerantes, sucos de caixinha, artificiais, sorvetes, que são tão prejudiciais nessa estação quanto em todas as outras com um agravante: a vontade e o consumo são muito maiores no calor, nas piscinas, nas praias.

E falando em praias, evitem a todo custo, as “comidinhas de praia”. Aqueles salgadinhos, camarõezinhos, pasteizinhos, de origem e conservação duvidosas e que são vendidos após ficarem “passeando” por tempo e espaços desconhecidos.

Hidratação

Apesar de já termos mencionado a sede anteriormente, a hidratação (tanto da pele quanto do corpo) são fundamentais. As necessidades hídricas das crianças e adolescentes (e nesse caso, atenção especial à terceira idade da família) são muito maiores nessa época. E do jeito que está esse calor extremo (35º hoje, ninguém merece), as necessidades são maiores.

Nessa época do ano, as crianças costumam ser mais afetadas pelos quadros gastrintestinais (diarreia, vômitos), que quando acompanhados de febre e aumento de transpiração favorecem a desidratação. Cuidado. Ao menor sinal de boca e olhos mais secos, moleirinha funda (nos bebês), fraqueza, tontura, turgor (textura) da pele mais frouxo, com ou sem sintomas clínicos (diarreia, vômitos, febre, entre outros) aumente a oferta de líquidos – ofereça-os aos poucos o tempo todo – e se não notar diferença em pouco tempo entre em contato com seu pediatra ou vá a um pronto-socorro.

A desidratação é um problema grave em qualquer idade, mas especialmente nas fases extremas da vida (lactentes e terceira idade).

Com o tempo muito quente e abafado como está agora, a frequência e a duração dos banhos pode aumentar. Além dos cuidados para evitarmos o racionamento de água, a recomendação seria de, no máximo, dois banhos ao dia. A pele tem uma camada de gordura que a protege naturalmente dos raios UV e, com os banhos repetidos e prolongados pode ficar mais exposta.

Em caso de qualquer excesso de atividade física, muito cuidado com o horário (antes das 9 ou após as 16 horas) e com a hidratação constante (fundamental).

Pele

Sabe qual o maior órgão de nosso corpo? Se respondeu a pele, você acertou. E pela sua extensão e suas características específicas, ela pode sofrer agressões que nem sempre são benignas.

Em final de 2013, a Sociedade Brasileira de Dermatologia divulgou o 1º Consenso Brasileiro de Fotoproteção com temas que já foram abordados em uma matéria do Departamento de Dermatologia Pediátrica, no site Conversando com o Pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O sol e o calor podem levar a quadros agudos (queimaduras) e, dependendo da evolução, problemas pelo efeito cumulativo da radiação solar podem requerer acompanhamento mais apropriado (fotoenvelhecimento, câncer de pele – melanomas).

Assim, além do uso de protetor solar (apenas após o 6º mês, fator 30, repassado em boa camada a cada 2 horas), de horários mais regulados de exposição (antes das 10 e após as 16 horas), é interessante o uso de bonés, roupas e até óculos escuros para prevenção de queimaduras solares.

Fitofotodermatose. Esse é um tipo especial de queimadura que aparece mais comumente na época do calor. Limonada e outros cítricos, caipirinha e até os sorvetes em contato com a pele podem causar as queimaduras. Caso isso aconteça, o ideal é enxaguar bem com sabão e evitar o sol nessa hora, lembrando que até perfumes cítricos podem causar queimaduras de segundo grau.

Insolação e intermação (mormaço). Apesar de não diretamente relacionado à pele é diretamente relacionado ao excesso de sol e ao calor intenso. Os estragos podem ocorrer mesmo em crianças que estejam sob o guarda-sol ou mesmo com a cabecinha coberta. O ar fica muito quente, o sol refletido nas areias das praias, nos vidros dos carros e espelhos dos prédios, pode aumentar e muito a temperatura ambiente e causar transtornos que precisam ser avaliados e tratados com rapidez. Roupas leves e hidratação continuam sendo fundamentais.

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Relator:
Dr. Moises Chencinski
Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Publicado em 07/02/2014.
photo credit: Vasil Vasilev | Dreamstime.com

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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