Um alerta sobre a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica

A pandemia global da COVID-19 tem causado muitos casos graves e mortes entre adultos e idosos com comorbidades, mas, entre crianças e adolescentes, na maioria das vezes, a doença é assintomática ou apresenta sintomas leves da infecção.
Entretanto, algumas crianças ou adolescentes podem desenvolver manifestações clínicas graves. É um novo fenômeno, chamado de “síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica”.

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O que é essa síndrome?

É uma situação clínica, na qual ocorre uma intensa inflamação de vários sistemas do corpo: dos vasos sanguíneos (vasculites), causando extravasamento (vazamento) de líquidos e seu acúmulo nos pulmões, coração, rins e outros órgãos, além de diminuição da pressão arterial (quadro de choque).
Em alguns países, inclusive no Brasil, nas últimas semanas, infelizmente tem havido alguns casos em crianças e adolescentes desta síndrome, que tem em comum algumas características da Doença de Kawasaki (vasculite aguda rara, cujo diagnóstico baseia-se na presença de febre persistente, quadro de erupção cutânea, aumento de gânglios, conjuntivite com vermelhidão nos olhos, inflamação nas mucosas, alterações nas extremidades e sua principal complicação são os aneurismas das artérias coronárias) e da Síndrome do Choque Tóxico (causada por algumas bactérias que produzem toxinas, ocorre disfunção de múltiplos órgãos e instabilidade da pressão arterial, com choque).
O que chama a atenção nesses casos é que as crianças ou adolescentes tem nos exames para SARS-CoV-2: PCR positivo numa minoria dos casos e sorologia (IgG) positiva em sua maioria; além disso, sua faixa etária é mais alta do que a dos pacientes com Doença de Kawasaki.

Quais são os sintomas que a maioria dessas crianças apresenta?

A COVID-19 pode infectar os pacientes não apenas pelo trato respiratório, na forma de gotículas de ar, mas também pelo trato digestório, por contato ou transmissão fecal-oral.
Os sintomas iniciais podem ser gastrointestinais, com dor abdominal, vômitos e diarreia e pode haver ausência de sintomas respiratórios nesta fase. Entretanto, com o passar dos dias os sintomas envolvem inflamações na pele, sangue, coração e veias: febre, cefaleia, confusão mental, erupção na pele, descamação, hipotensão e disfunção de múltiplos órgãos.
Sintomas que servem de alerta: dores abdominais, gastrointestinais e inflamação cardíaca

O que pode gerar confusão frente aos sintomas?

Alguns fatores interferem negativamente para a detecção precoce dessa síndrome em crianças, principalmente em sua fase inicial: não apresentar sintomas respiratórios (que seriam os esperados), estar com febre ou com alguma outra doença. É importante lembrar que esta síndrome causa uma reação inflamatória atípica e desproporcional a uma infecção banal.

E o que os pais podem fazer?

  • Primeiro de tudo, mantenham a calma! Considerem que o número de casos é muito pequeno;
  • Fiquem atentos aos sintomas de alarme, tanto pela COVID-19, como de outras doenças que possam justificar o atendimento em pronto socorro;
  • Se estiverem preocupados com algum sintoma que seu filho esteja apresentando, ou se estiver com alguns dos citados acima, entrem em contato com seu pediatra. Caso não seja possível, dirijam-se ao serviço de urgências pediátricas que tenha estrutura de internação em unidade de cuidados intensivos;
  • Estes conhecimentos possibilitam o diagnóstico precoce de doenças que requerem intervenção imediata, não só nos casos do novo coronavírus. 

Lembrar que: o reconhecimento precoce e o tratamento definitivo são fundamentais para melhorar os resultados e sobrevida dos pacientes dessa síndrome grave, que pode requerer cuidados intensivos, para abordar as múltiplas insuficiências, com destaque para: coração, pulmões e rins.

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Relatores:
Dra. Renata D. Waksman
Vice-Presidente da SPSP e Coordenadora do Blog Pediatra Orienta da SPSP
Dr. Eitan N. Berezin
Presidente do Departamento Científico de Infectologia da SPSP