Relator:
Dr. Joel Schmillevitch
Presidente do Departamento Científico de Diagnóstico por Imagem da SPSP; Membro do Grupo de Fígado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
O divertículo de Meckel (DM) é encontrado em 2 a 3% da população e é a anomalia congênita mais comum do trato gastrintestinal, sendo a hemorragia sua complicação mais frequente. O sintoma mais comum é a hematoquezia indolor e as complicações incluem perfuração, intussuscepção e vólvulo.
O DM aparece como uma estrutura cística, tubular ou em gota, com a assinatura intestinal nas imagens de ultrassonografia (US) em modo B.
O DM é um divertículo verdadeiro e suas camadas são compostas por todas as camadas de parede ileal. Mucosa gástrica ectópica e tecido pancreático podem ser encontrados em seu interior. Está comumente localizado no íleo terminal, a 40-100 cm da válvula ileocecal e, por isso, deve ser considerado nos diagnósticos diferenciais das afecções da fossa ilíaca direita, como a apendicite. Pode ser assintomático e detectado incidentalmente à laparotomia.
A US se tornou uma ferramenta importante no diagnóstico, especialmente no atendimento de emergência, pelos sintomas e também por ser método livre de radiação ionizante.
Na US, o divertículo tem a aparência característica de imagem cística, apresentando o sinal da “assinatura” intestinal (gut signature: camada hiperecoica interna – submucosa, e camada externa hipoecoica-muscular). Essa aparência pode mimetizar cistos de duplicação intestinal, mas estes possuem uma superfície interna mais regular por se tratar de mucosa intestinal.
Outra característica na US de um DM inflamado é a ausência de peristalse, que o diferencia das alças intestinais adjacentes. O DM hemorrágico pode contrair-se e complicar sua detecção, a exemplo de um caso em que o DM contraiu-se durante o exame, esvaziando-se por completo. Quando ocorre perfuração de um DM, uma camada externa de fibrina hiperecoica pode ser visualizada.
O exame por US com Doppler colorido normalmente detecta hiperemia da parede do divertículo inflamado e a presença de vaso nutridor.
Os resultados da cintilografia com Tc-99m na investigação do DM podem ser negativos ou inconclusivos, porque dependem da presença de mucosa gástrica ectópica, a qual pode ulcerar e sangrar, e da taxa de sangramento, o que justifica a investigação por outros métodos de imagem, como a US.
Texto original publicado no Boletim “Pediatra Informe-se” Ano XXIX • Número 167 • Janeiro/Fevereiro de 2013