Há uns oito anos, mais ou menos, houve na Europa e nos EUA uma “febre do uso dos babies neck floats”, ou boias de pescoço, anéis de plástico infláveis usados ao redor do pescoço do bebê, que permitiam que o mesmo flutuasse livremente na água. Algumas dessas boias eram comercializadas para bebês a partir de duas semanas de vida ou prematuros. Eram usadas durante o banho, na piscina ou como uma ferramenta de fisioterapia (intervenção de terapia aquática) para bebês com atrasos ou deficiências no desenvolvimento.
Esses produtos prometiam aumento do tônus muscular, maior flexibilidade e amplitude de movimento, aumento da capacidade pulmonar, melhor qualidade do sono e aumento da estimulação do cérebro e do sistema nervoso. Entretanto, a segurança e a eficácia das boias de pescoço para desenvolver força, promover o desenvolvimento motor ou como uma ferramenta de fisioterapia não foram estabelecidas. Além do mais, houve relatos de agravamento de lesões motoras, além de acidentes (que serão melhor explicados a seguir), o que fez com que o FDA (Food and Drug Administration) emitisse um alerta em 2022, contra o uso desses dispositivos em fisioterapia.
Mesmo para uso “recreacional”, os flutuadores de pescoço acabaram se mostrando perigosos, com risco de morte por afogamento e sufocamento, distensão e lesão no pescoço do bebê. Várias entidades médicas, incluindo a Sociedade Brasileira de Pediatria, manifestaram repúdio ao uso.
Como foi dito no início, infelizmente, alguns modismos retornam… e parece ser o caso dessas boias. Alguns vídeos de bebês flutuando com o dispositivo retornaram às mídias sociais. Por isso, o Departamento de Segurança da SPSP achou por bem retomar as explicações dos malefícios do uso:
Risco de afogamento
Mesmo em banheiras ou piscinas rasas, o bebê pode deslizar para dentro do dispositivo ou virar, ficando com o rosto submerso. Bebês tiveram a boca, o nariz ou a cabeça inteira escorregando pelas aberturas e caindo na água quando as boias não estavam infladas o suficiente, quando apresentavam vazamentos por ficarem escorregadias com sabão ou por razões desconhecidas. O adulto pode ter uma falsa sensação de segurança e diminuir a supervisão, aumentando o risco de acidentes.
Risco de lesões no pescoço e coluna cervical
O pescoço do bebê é frágil e o peso da cabeça é desproporcional nessa idade. A boia exerce pressão inadequada na região do pescoço, podendo causar torcicolos, microlesões ou agravar problemas neurológicos e ortopédicos em crianças com doenças preexistentes. O uso frequente pode levar a alterações no desenvolvimento da coluna do bebê.
Risco de asfixia e estrangulamento
Se o dispositivo esvaziar, furar ou não estiver bem ajustado, pode comprimir vias aéreas, dificultar respiração ou machucar o bebê, além de propiciar o afogamento.
Problemas no desenvolvimento
O uso de neck floats restringe movimentos naturais e não contribui para aprendizado motor saudável.
Ausência de regulação e normas de segurança
Esses flutuadores são vendidos como “brinquedos” ou “dispositivos terapêuticos”, mas sem estudos clínicos ou testes de segurança confiáveis.
Enfim, mediante vários relatos de acidentes no mundo e algumas mortes, as sociedades médicas e órgãos de saúde, entre outros, desencorajam completamente o uso dos “babies neck floats”, reforçando que a forma segura de estimular bebês na água é através de contato próximo e direto com os pais/cuidadores, em atividades supervisionadas e sempre com atenção total.
“Babies neck floats” (boias de pescoço) não protegem: aumentam o risco de afogamento e lesões – mantenha seu bebê sempre nos seus braços, nunca dentro delas. Tire essa ideia da cabeça (e do pescoço)!
Relatora:
Tania Zamataro
Membro do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da SPSP
Coordenadora do Blog Pediatra Orienta da SPSP


